Profissão: documentarista

Última atualização
20 mar 2024
Tempo de leitura
8 min

Érica Modesto da Pasárgada Comunicação e professora da EBAC ao lado de Déa Ferraz, diretora do documentário “Agora”, explicam como é a carreira nessa área e dão dicas para dar os primeiros passos na área

O que fazem, como vivem, de que se alimentam esses profissionais que ditam as próprias regras de suas produções e criam narrativas únicas? Falamos com Déa Ferraz, cineasta documentarista do filme Agora e os professores do curso da EBAC de Documentário Érica Modesto e José Eduardo Pachá, sócios da Passargada Comunicação, para falarem sobre a carreira, o dia a dia e dicas da profissão.

O que é ser documentarista? É o mesmo que ser cineasta?

“Eu compreendo que o documentarista é o cineasta das histórias reais. Existem muitas possibilidades dentro do gênero da não ficção e é necessário um olhar apurado, muita sensibilidade e certo jogo de cintura para contar as histórias que desejamos, de um jeito criativo e capaz de interessar às pessoas. Como alguém que adora ouvir histórias de todos os tipos, considero um prazer e um privilégio poder ser uma das pessoas que leva histórias interessantes para outras pessoas através do audiovisual”, diz Erica.

Novo longa-metragem da diretora Dea Ferraz será lançado na 9º edição do Festival Olhar de Cinema (Crédito: Reprodução/Instagram)

Déa acredita que, talvez, “o que diferencie o ser documentarista e o ser cineasta seja a matéria prima do trabalho. No meu caso, ela está no real, naquilo que vejo, toco e percebo do mundo. É em contato com o real que ficcionalizo meu olhar sobre o mundo e me interessa partir daí. Tradicionalmente, se diz ‘documentarista’ às pessoas que trabalham com a ideia de real e ‘cineasta’ às que trabalham com ficção. Para mim, esse limiar entre o que chamamos real e ficção é borrado. O real invade a ficção e a ficção invade o real. Sendo assim, cineasta ou documentarista? Trabalhamos com imagens e isso, penso, é o que nos define.”

Democracia em Vertigem (Crédito: Reprodução/Netflix)

Falando sobre a profissão na prática, quais as funções possíveis dentro de um projeto documental? Érica diz: “Eu costumo dizer que em produções documentais cada pessoa envolvida na pré-produção, na produção e na pós precisa ser ao mesmo tempo técnica e criativa. O documentário é sempre um processo de troca com o outro, seja com as pessoas que você vai entrevistar, com aquelas que vão te permitir acesso a um determinado lugar, ou com quem pode te fornecer informações que você busca. Essa troca também acontece o tempo todo entre os membros da equipe, de maneira que o trabalho de cada um influencia diretamente na forma de trabalhar dos demais. Então além da direção geral, a produção, o roteiro, a direção de fotografia, a edição e a pesquisa são funções extremamente importantes que contribuem de forma bastante intensa para o resultado final. É possível atuar em qualquer uma delas e exercer seu lado criativo, autoral e técnico dentro do projeto.”

Já Déa, acredita que para cada projeto, é preciso ter uma equipe específica, a depender do formato do filme. “Um documentário pode ser feito com uma equipe mínima, se a proposta for, por exemplo, uma aproximação mais discreta de uma realidade; mas também pode pedir uma equipe grande, com funções bem aproximadas das que compõem um set de ficção. Então, da pesquisa à finalização, chegando à distribuição, muitas são as funções possíveis.”

ALVORADA | Trailer Oficial

Como é o dia a dia de um documentarista? Vocês criam e desenvolvem muitos projetos ao mesmo tempo?

“Acho que cada profissional tem sua maneira de trabalhar. No meu caso, tenho vários projetos no papel, ideias que vão sendo trabalhadas e amadurecidas paralelamente, mas dificilmente estarei envolvida na produção de mais de um. Porque o mergulho em cada filme, para mim, é muito importante e o processo exige entrega e atenção”, diz Déa.

Érica e Pachá, que também são sócios da Passargada Comunicação, têm sua própria dinâmica: “Nosso tempo geralmente se divide entre executar as demandas de clientes para seus projetos de não ficção (vídeos institucionais, documentários para empresas, vídeos de marketing baseados em personagens e situações reais); a participação em projetos documentais autorais de terceiros e nossa busca por projetos pessoais e autorais nossos.
Os primeiros permitem que a empresa tenha saúde financeira para seguirmos em frente. Os projetos documentais autorais de terceiros são demandas que adoramos atender, pois temos a chance de nos concentrarmos em uma atividade específica do projeto (geralmente a produção) e até agora tivemos a sorte de participar de alguns projetos muito incríveis, principalmente com equipes estrangeiras. Já os nossos projetos autorais a gente tenta viabilizar correndo atrás através de editais ou através dos nossos próprios recursos quando se trata de algo mais simples e que merece ser executado.”

Dedo na Ferida - Teaser

Silvio Tendler (documentarista do vídeo acima) disse em uma entrevista que gosta de documentário por ser como um quebra cabeças, que tem espaço para improviso e não é preciso seguir um roteiro quadrado, certinho, como no cinema de ficção. Isso acontece mesmo ou só é livre assim quando se trata de um projeto independente?

“No documentário o roteiro tem mais a ver com o planejamento de como o projeto vai ser executado do que propriamente com a decupagem e marcação de cenas como acontece na ficção. Então é possível ter maior liberdade na forma e no conteúdo que se cria no documentário, até porque o roteiro acaba só se concretizando pra valer durante a edição. Mas isso não significa que não seja necessário planejar, porque é o planejamento que vai permitir que a equipe entenda coisas básicas e essenciais como a duração de cada etapa da produção, a quantidade de material que será gerado, e principalmente os custos do projeto. Eu vejo o documentário como um Lego, mais do que como um quebra-cabeça. Porque ele te permite arrumar as peças de muitas formas diferentes, gerando resultados finais diversos de acordo com esses arranjos, mas é importante que todas as peças estejam lá para que se construa algo sólido, seja em projetos de terceiros seja em projetos completamente pessoais”, explica Érica.

Déa: “Sim, acho que o documentário, por estar numa relação mais direta com o real, acaba abrindo uma maior possibilidade para o improviso, o acaso, o incontrolável, e é justamente nessa brecha do improvável que o real acaba por se revelar. Mesmo nos projetos que não são independentes, se a matéria prima do trabalho é o real, essa abertura também acontece. O que não pode ser confundido com liberdade de criação, porque num projeto encomendado você certamente vai lidar com demandas específicas e desejos outros. Nesse caso, acho que me torno uma espécie de tradutora de ideias alheias. A liberdade de criação está mais ligada aos projetos pessoais/autorais.”

Como dar os primeiros passos nessa carreira? Quais as dicas de vocês para evitar erros comuns dos novatos?

Déa não acredita existir um único caminho a ser seguido, “Ou um conselho certeiro, do tipo “vá por aqui”. Mas eu diria: faça, não tenha medo de errar ou acertar, só experimente. Liberte o olhar dos padrões estabelecidos e se permita olhar o mundo como quem acaba de chegar. O cinema é uma ferramenta de encontro com as pessoas, com o mundo e com nós mesmes [Déa indica aqui a linguagem neutra de pronomes pessoais]. Pode ser também uma ferramenta de luta e de produção de outros mundos. Precisamos entender que quando exibimos uma imagem, junto com ela, sonhamos, denunciamos, imaginamos, co-criamos esse mundo. A responsabilidade é imensa e a entrega também. Não há caminho certo, mas se há desejo na experimentação da linguagem, no encontro com as pessoas, no fazer coletivo e na coragem de errar, então a estrada vai se mostrando.”

Essa pergunta se relaciona diretamente com a resposta anterior, porque o mais importante é se planejar, independentemente do tamanho do projeto que a pessoa tem em mente. Até para você convidar um amigo para participar de um projeto com poucos recursos, se houver planejamento ele/ela vai se sentir mais confortável e confiante para topar sua idéia ganhando pouco ou fazendo “no amor” se perceber que existe um plano concreto.

Meu outro conselho é criar em formatos de duração mais curta, que demandam menos tempo de pré e de pós e que podem gerar resultados incríveis. Os formatos menores também permitem que o criador distribua o filme nas mais diversas plataformas como o Youtube e o Instagram. É possível contar histórias maravilhosas e impactantes em, digamos, três minutos, e sem grandes extravagâncias.

E claro, não poderia deixar de dar o conselho que é fazer o nosso curso. Além de falarmos sobre teoria e prática, esse curso tem muitas informações que nós mesmos adoraríamos saber quando começamos, para evitar aqueles erros que às vezes geram frustrações em nós ou em algum outro membro dessa empreitada que é fazer documentários.

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Equipe EBAC

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Documentário

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