Os bastidores da Turma da Mônica

É quase impossível um brasileiro nunca ter ouvido falar da Turma da Mônica. Para muitos, o sentimento de nostalgia pode aflorar só de ouvir essas três palavras. Afinal, as histórias em quadrinhos escritas pelo renomado Mauricio de Sousa foram o entretenimento de muita gente durante a infância.

Mas, ao longo do tempo, a Turma da Mônica soube se manter presente na vida de uma legião de pessoas – de crianças a adultos – e, até hoje, é uma referência de sucesso. Para descobrir o segredo desse legado, conversamos com a diretora de conteúdo editorial na Mauricio de Sousa Produções (MSP), Marina Sousa Cameron, que nos contou um pouco de como é o seu trabalho; dos desafios que enfrenta; das mudanças que ocorreram ao longo do tempo nas histórias da Turma da Mônica; e o que podemos esperar para o futuro.

Legenda: Marina Sousa Cameron, diretora de conteúdo editorial na Mauricio de Sousa Produções (MSP). Imagem: Valentino

Quais são as atividades que você desenvolve como diretora de conteúdo editorial na MSP?

“Cuido da avaliação de todo conteúdo editorial e audiovisual. Meu trabalho é manter a filosofia do Mauricio em todos os produtos, observar o acompanhamento de cada personagem e suas atualizações conforme o momento que vivemos na sociedade, e também manter a criatividade e humor característicos de nossas publicações para cada público.”

Como você enxerga o trabalho e presença feminina em cargos de liderança criativa? Houve uma evolução nesse aspecto?

“Aqui na MSP a presença feminina na direção do estúdio e também na produção dos quadrinhos sempre foi acima da média. A Alice Takeda, minha mãe e diretora de arte, por exemplo, trabalha há mais de cinquenta anos com o Mauricio, e hoje comanda a produção de arte do estúdio.”

Falando especificamente dos quadrinhos, consegue estabelecer uma diferença entre o modo como as mulheres eram retratadas antes e como as narrativas as abordam agora?

“As mulheres eram sempre colocadas em um segundo plano nas histórias em quadrinhos em geral. Poucas tinham protagonismo. A Mônica veio para mudar isso e virou logo a dona da rua. Hoje já existem heroínas e não apenas namoradas dos heróis nas HQs. Mas ainda acho que tem muito para evoluir com mais autoras mulheres surgindo neste momento.

Dentro das nossas histórias, as mães da Turma deixaram de ser retratadas de avental, sempre às voltas com o trabalho doméstico. Hoje os cuidados com os filhos e a casa são divididos entre as mães e os pais da Turma. É comum as crianças chegarem em casa e não encontrarem mais o seu Cebola lendo jornal enquanto a dona Cebola lava a louça. O seu Cebola pode estar lavando a louça e a mãe não ter chegado ainda do trabalho, para citar um exemplo.”

No geral, quantos profissionais há e como funciona o planejamento de conteúdo da MSP?

“O estúdio tem cerca de 400 funcionários, desde a parte artística até a administrativa. Nosso planejamento de conteúdo tem reuniões semanais dos gestores e contato direto com os roteiristas que estão por todo o Brasil. As reuniões virtuais aumentaram muito desde o evento da pandemia, onde conseguimos manter a produção em alta.”

Quais são os seus principais desafios como diretora de conteúdo editorial?

“É uma grande responsabilidade escrever para tantas gerações que cresceram lendo a turminha e ainda manter este padrão que há mais de 60 anos oferecemos aos nossos leitores. Estes que estão cada dia mais exigentes no conteúdo, criatividade e humor da Turma da Mônica.”

Qual o segredo para manter as produções do Mauricio de Sousa no topo durante tantos anos?

“Nunca nos acomodar diante de um sucesso. Estamos sempre com novidades para que o leitor saiba que trabalhamos constantemente por eles e sua melhor diversão.”

Ao longo dos anos, o conteúdo e o formato das histórias foram sendo atualizados para atender às novas demandas da sociedade. Qual a importância de fazer esse movimento?

“Procuramos nos manter sempre fiéis aos valores trazidos pela obra do Mauricio desde o início: amizade, respeito, inclusão, otimismo. Isso nunca muda, mas a linguagem se transforma para manter a comunicação com as crianças de hoje. O Mauricio sempre ouviu os leitores. Ele se inspirou (e se inspira) nas crianças que estavam ao seu redor, na infância e, depois, como pai, avô e bisavô. Ouvimos muito nossos fãs e leitores sobre o que desejam e o que gostaram ou não gostaram em alguma historinha. Com as redes sociais esse retorno é quase que imediato e esse diálogo entre autor e leitor acontece em tempo real.”

Como você se sente e como encara o desafio de dar continuidade ao legado da Turma da Mônica e do Mauricio de Sousa?

“Um prazer enorme porque acompanhei meu pai desde criança. E me envolvia já querendo desenhar e criar historinhas. A responsabilidade é grande, mas o desafio só nos ajuda a evoluir.”

Para o futuro, o que podemos esperar para ver da MSP?

“Novas ideias e novos personagens vão surgindo. Neste ano, em que a personagem Mônica fez 60 anos de sua estreia nos quadrinhos, teremos edições especiais comemorando, novos filmes, novo show e mais animações chegando.”

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