Caligrafia e lettering: o que são?

Que as palavras têm significado, todo mundo sabe. Mas, além disso, o formato das letras que compõem as palavras também pode transmitir mensagens, e isso é possível por conta de técnicas artísticas de escrita como a caligrafia e o lettering.

Usadas comercialmente, no design gráfico, publicidade, em casamentos, posses presidenciais e artisticamente, a caligrafia e o lettering podem ser aplicadas em vários projetos e vêm sendo aprimoradas ao longo dos anos. Para saber mais sobre as duas técnicas, conversamos com o letter artist e designer gráfico Gui Menga, que também é professor do curso Caligrafia e Lettering da EBAC.

O que é caligrafia

A caligrafia, também conhecida como a arte da escrita, é uma técnica que tem como base o estudo e a prática das diferentes formas e estilos de escrita. Nela, a aplicação das palavras é feita em papel, se baseia em formatos e modelos tradicionais ou históricos, é escrita à mão e cada parte das letras é escrita com um só traço, sem correções.

“A tradução da palavra caligrafia significa bela escrita. Mas eu digo que é mais do que isso, é uma forma estruturada de escrever. A caligrafia não é a nossa escrita manual do dia a dia. Quando eu trabalho com caligrafia, eu sigo uma estrutura que é histórica e artística. Eu penso na forma, estilo, ritmo visual… existem vários pensamentos estéticos e de design por trás, não é só simplesmente pegar uma caneta e escrever ‘bonito’”, explica Gui.

De acordo com Gui, a caligrafia também pode ser considerada uma forma de arte. Afinal, ela não é apenas uma cópia de letras que se faz sem pensar nem uma escrita que se faz correndo. Para fazer uma caligrafia, o profissional segue modelos e padrões que são estéticos e históricos.

A caligrafia, também conhecida como arte da escrita, é uma técnica de escrita que tem como base o estudo e a prática das diferentes formas e estilos de escrita. Imagem: Gui Menga

O que é lettering

De forma geral, enquanto a caligrafia são letras escritas, o lettering são letras desenhadas. Diferente da caligrafia, para fazer o lettering, o profissional não precisa seguir formatos e modelos que já existem. Nesse caso, ele acaba tendo uma maior liberdade e pode seguir um padrão uniforme entre as letras ou não.

Enquanto a caligrafia são letras escritas, o lettering são letras desenhadas. Imagem: Gui Menga

O lettering, em geral, é desenvolvido especificamente para um projeto, o que significa que ele tem uma identidade única. Nesta técnica, o profissional pode fazer o lettering à mão ou digitalmente, utilizando tecnologias a seu favor como o iPad, ou nas mesas digitalizadoras para fazer a aplicação em logotipos, embalagens, paredes, quadros e camisas, por exemplo.

Apesar de existir essa definição, Gui alerta que o lettering e a caligrafia podem se misturar. “Quando você vai avançando nessa prática, você entende que tudo se mistura. Elas se encontram no propósito. Se o projeto requer uma letra exclusiva e diferente, cabe ao profissional entender a demanda. Ele vai saber qual é o estilo que precisa ser desenvolvido. Tanto é que você pode começar um projeto pela caligrafia, fazer diversas revisões até chegar no estilo que se quer e, no final, virar um lettering customizado, único e personalizado”, conta Gui.

Onde a caligrafia e o lettering são usados

As duas técnicas podem ser usadas para diversas finalidades. Alguns locais onde se pode usar caligrafia e/ou lettering são:

• Cerimônias tradicionais como casamentos e eventos de governos

Tradicionalmente, as pessoas utilizam a caligrafia para fazer os convites de casamento. Isso porque, o costume de fazer os convites escritos à mão permanece vivo até hoje, uma vez que a caligrafia pode passar uma sensação de importância e exclusividade, o que valoriza o evento.

Além disso, Gui conta que governos também utilizam caligrafia. “Em momentos oficiais de governos e reinos, a caligrafia ainda é usada por conta da tradição. No Brasil, por exemplo, o livro de posse do presidente é caligrafado à mão a cada quatro anos. Nos Estados Unidos há um departamento de calígrafos que escreve convites e cardápios de eventos oficiais.”, conta Gui.

• Artisticamente

A caligrafia e o lettering também são usados para fins artísticos. Por exemplo, um profissional pode transformar um texto ou uma frase em obras de arte, utilizando as técnicas e estruturas de escritas específicas.

Exemplo de como a caligrafia e/ou lettering pode ser usado artisticamente. Imagem do mural “A vida é tão rara” desenvolvido por Aline Kaori, Lygia Pires, Diogo Delog e Gui Menga

• Comercialmente

A caligrafia e o lettering também são usados há muito tempo de forma comercial. É comum o uso das técnicas em projetos de design, como design de embalagens, design editorial, capas de livros e revistas, design de marcas, logotipos, itens de identidade visual e na publicidade.

Exemplos de como a caligrafia e/ou lettering pode ser usado para fins comerciais. Imagem: Gui Menga

Exemplos de como a caligrafia e/ou lettering pode ser usado para fins comerciais. Imagem: Lygia Pires

De acordo com Gui, as possibilidades para usar comercialmente a caligrafia e o lettering são infinitas. Nesse universo, qualquer letra pode ser desenhada ou escrita à mão. Inclusive, essa é uma prática muito comum usada pelas marcas.

“Hoje em dia, as marcas não só são desenhadas com letras customizadas, mas ainda expandem essas letras para virar uma fonte exclusiva. Hoje essa prática – de criar fontes exclusivas – é popularizada por conta da tecnologia que permite fazer isso em um tempo muito reduzido”, conta Gui.

Ferramentas que são usadas para fazer caligrafia e lettering

É possível utilizar diversos instrumentos para escrever ou desenhar palavras. Na caligrafia, por exemplo, é comum o uso de penas, canetas e pincéis. Essa técnica é aplicada principalmente em papéis.

“Principalmente na caligrafia ocidental, com as letras latinas ou romanas, é comum usar pincéis e penas de ponta quadrada. Mas existem inúmeras outras ferramentas. Posso fazer com penas de aves ou bambu, por exemplo. E existem tantas ferramentas porque cada uma tem uma característica e resultam em um traço diferente. Às vezes eu preciso de um traço de um jeito específico, então eu vou atrás da ferramenta que me dê aquele traço”, explica Gui.

Já no lettering, é comum que os profissionais façam o uso de lápis, caneta, papel vegetal e também mesas digitalizadoras. Mas nada impede que se faça o uso de instrumentos que também são utilizados na caligrafia.

“No lettering, como o desenho das letras pode ser mais livre, eu posso usar qualquer instrumento, e partir de qualquer fonte de inspiração. Eu, pessoalmente, uso bastante a pena de ponta quadrada para desenhar também, por exemplo, porque eu tenho mais velocidade e o desenho já sai preenchido”, conta Gui.

Como praticar caligrafia e lettering

Para dominar as duas técnicas artísticas, as dicas são: colocar a mão na massa e treinar o olhar.

• Colocar a mão na massa

Não há outra forma de aprender a fazer caligrafia e lettering a não ser colocando a mão na massa. Praticar é palavra-chave.

“É preciso treinar a mão e o braço para conseguir fazer os movimentos necessários com naturalidade. É preciso consistência, praticar e produzir bastante coisa. Você não aprende a fazer apenas assistindo à aula do curso, lendo um livro ou através de uma publicação nas redes sociais. É preciso praticar realmente”, explica Gui.

No início desse processo, o que se pode fazer é copiar modelos que se vê no dia a dia, tanto de lettering quanto de caligrafia. Dessa forma, a pessoa pode pegar referências e copiá-las até internalizar. Assim, ela começa a treinar a escrita e o desenho das letras, palavras, frases e textos.

Para praticar, Gui dá uma dica: fazer algo do começo ao fim. Fazer lettering em um cartaz ou escrever uma carta, por exemplo, até o final. Não fazer apenas rascunhos, e muito menos desistir no meio do caminho é importante porque ao chegar no final do processo, a pessoa terá aprendido bastante. Ela saberá quais foram as suas dificuldades ao longo do processo e, da segunda vez que ela fizer já vai melhorar a sua prática em comparação à primeira.

Muitas vezes o resultado não vai ficar como a pessoa espera. Porém, é preciso ter paciência. “É natural hoje em dia achar que tudo deve ficar pronto e bem feito de forma rápida. Mas essas são técnicas que devem ser feitas com atenção e calma e, por isso, podem ser frustrantes. Aprender algo novo é sempre difícil. Aprender uma técnica manual, ainda mais em tempos que as pessoas estão acostumadas a só digitar, é desafiador para muita gente”, explica Gui.

Além disso, praticar também é importante para a pessoa ficar adaptada a utilizar ferramentas como pincéis para escrever ou desenhar palavras, algo que, normalmente, não é comum no dia a dia. Por isso, praticar também é interessante para superar a dificuldade motora que existe nessas técnicas.

• Treinar o olhar

Além de treinar a mão, para aperfeiçoar o lettering e a caligrafia também é preciso treinar o olhar. Para isso, é necessário ter uma atenção extrema.

“É fundamental você treinar o seu olho para comparar, por exemplo, a letra ‘o’ que você desenhou com a de algum modelo. Você tem que conseguir entender se ele está diferente. É preciso julgar as formas. Você precisa olhar a letra ‘o’ como uma forma circular e a letra ‘m’ como uma haste e um arco, por exemplo”, explica Gui.

Para fazer esse julgamento, Gui dá uma dica: não ler o que está escrito. Uma forma de fazer isso é virar o que se está escrevendo de ponta cabeça. Assim, o cérebro não consegue fazer a leitura e a pessoa consegue fazer um melhor julgamento do trabalho que está fazendo.

A partir disso, o trabalho vai sendo aperfeiçoado. Ao longo do tempo, a pessoa vai conseguir julgar não só o formato de uma letra que está fazendo, mas também a união dessas letras, a estética da palavra, o espaçamento e assim por diante.

Quem pode aprender caligrafia e lettering

Qualquer pessoa pode aprender caligrafia e lettering. Através de cursos como o da EBAC, a pessoa que tem interesse em dominar as técnicas é guiada por um profissional que ensina as melhores práticas e dá importantes dicas que facilitam o aprendizado.

“O curso da EBAC começa ensinando caligrafia. Assim, a pessoa vai ter uma base caligráfica. E isso é importante porque ela vai conhecer estilos fundamentais, estruturas e características dos estilos caligráficos, por exemplo. Depois, ela vai começar a desenhar as letras”, explica Gui.

Gui ainda acrescenta que as pessoas que são canhotas podem ter um pouco mais de dificuldade do que as que são destras. Isso porque as ferramentas e as técnicas foram, em sua maioria, feitas para destros. Por isso, a maneira de segurar as ferramentas pode dar um pouco mais de trabalho. Porém, isso não é um impeditivo. Para essas pessoas, é preciso pequenas adaptações, além de paciência e dedicação.

É possível ganhar dinheiro com caligrafia e lettering?

A caligrafia e o lettering podem ser encarados como um hobby, mas também como uma profissão. De início, é possível ganhar dinheiro através de um trabalho mais artesanal como o de customização de objetos, criação de quadros e telas, por exemplo. Quando se passa a dominar a caligrafia, é possível fazer convites de casamento, e também trabalhos comerciais como desenho de logotipos, títulos de livros, e ações de caligrafia ao vivo. Há profissionais especializados nesses nichos, inclusive.

Para quem estuda design gráfico, por sua vez, saber as duas técnicas enriquece o trabalho, já que elas são usadas há muito tempo para fins comerciais. “Caligrafia, lettering e design gráfico fazem um combo muito bom. Porque o lettering e a caligrafia vão agregar na prática do designer, vão aprimorar o olhar desse profissional e vão ser muito úteis na carreira”, conta Gui.

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