Os impactos da IA na criação e no trabalho

Última atualização
02 out 2023
Tempo de leitura
11 min

Evento realizado pela EBAC trouxe especialistas que falaram sobre as suas experiências, perspectivas e expectativas a respeito das IAs.

Os impactos da Inteligência Artificial (IA) na criação e no trabalho foi o tema do primeiro episódio da série IAí: Conversas sobre Inteligências Artificiais, evento realizado pela EBAC, que aconteceu no Learning Village, em São Paulo (SP), e que também foi transmitido de forma virtual através do YouTube.

O tema não foi escolhido por acaso. É cada vez mais comum ouvirmos falar a respeito da presença das IAs em nosso dia a dia, mas ainda há quem tenha dúvidas sobre elas. Afinal, o que é uma IA? As máquinas vão substituir a mente humana? Os empregos criativos vão desaparecer?

Foi para esclarecer essas dúvidas que convidamos um time de especialistas para palestrar no evento: o deepfaker e influenciador digital Bruno Sartori; a economista e professora Dora Kaufman; e o copywriter Felipe Sanches.

Ao longo do evento, cada um dos profissionais falou sobre as suas experiências, perspectivas e expectativas a respeito das IAs. Aqui, nós vamos destacar o que foi abordado por eles ao longo do evento.

Panorama das IAs

A professora do TIDD PUC SP Dora Kaufman, que também é autora dos livros “A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana?” e “Desmistificando a Inteligência Artificial”, foi a primeira palestrante do evento.

Em sua palestra, ela contou um pouco sobre a importância das informações geradas pelos seres humanos para as IAs e falou se a inteligência humana, até agora, corre o risco de ser substituída.

Palestra da economista e professora Dora Kaufman que estuda as IAs intensamente há 7 anos. Fonte: arquivo pessoal

  • Os dados são as matérias-primas para as IAs

Kaufman, que vem estudando as IAs intensamente há 7 anos, começou a sua palestra com uma pergunta: o que a gente procura quando é preciso tomar uma decisão? E a resposta é bem simples: informação. E ela é a base de tudo.

“Quanto mais importante é a decisão, mais a gente busca informação. E assim funcionam as empresas e nós, pessoas. (…) Sempre tomamos decisões com base em informação. Isso faz parte da vida em sociedade e não tem nada de novo”, explica Kaufman.

Portanto, há muitos anos, pessoas e empresas vêm tomando decisões baseadas em informações. Mas, ao longo das décadas, o volume das informações aumentou de forma extraordinária. Hoje vivemos em uma sociedade hiperconectada e grande parte dessas informações está armazenada em um ambiente digital – e esse detalhe faz toda a diferença.

Isso porque, Kaufman conta, os dados têm as informações do funcionamento da sociedade. Se falamos os nossos dados pessoais (na internet, por exemplo), eles têm o nosso padrão de comportamento, do que a gente gosta, do que a gente não gosta, onde a gente foi, o que comprou e como comprou.

Então, se antes já se extraíam informações dos dados, hoje se faz muito mais. A diferença é que, atualmente, o desafio é extrair informações úteis de um grande volume de dados – e são as IAs as únicas ferramentas que conseguem dar conta dessa tarefa até este momento.

  • As IAs, até agora, não conseguiram reproduzir o cérebro humano

Kaufman explica que a IA é um modelo estatístico de probabilidade que está revolucionando todo o funcionamento da sociedade. Afinal, hoje em dia, através de modelos estatísticos, pode-se identificar, pela imagem, se um tumor é cancerígeno, e até prever qual é o melhor candidato para uma determinada vaga em um processo seletivo automatizado.

Apesar de estar revolucionando a sociedade, é importante frisar que a IA não se compara à inteligência dos seres humanos, ao menos não até este momento. Tentar reproduzir a funcionalidade do cérebro humano é objetivo antigo mas, até agora, não se obteve sucesso.

“Não há como fazer uma programação que consiga trazer para a máquina a intuição, a nossa percepção, conhecimento tácito, as nuances da realidade (…), trazer tudo isso para a programação, até agora, não foi viável. Então há um outro caminho que se chama aprendizado de máquina, uma máquina que aprende através dos dados. (…) Quando nós falamos de IA, na verdade, hoje estamos falando de uma técnica de aprendizado de máquina chamada de redes neurais profundas, inspirada no funcionamento do cérebro. Ela não reproduz, de forma alguma, a nossa complexidade, é só inspirada”, conta Kaufman.

Portanto, apesar de entender que as IAs vêm ganhando destaque nos últimos anos em diversas áreas, até agora, não há indícios de que ela irá substituir o cérebro humano.

Os deepfakes

O segundo palestrante do evento foi o jornalista, humorista, influenciador digital e especialista em deepfake, Bruno Sartori. Sartori, que é pioneiro na criação de sátiras por meio desta técnica, contou em sua palestra o que é um deepfake, como ele é feito e como ele está sendo usado.

Bruno Sartori

Bruno Sartori: jornalista, humorista, influenciador digital e especialista em deepfake. Fonte: arquivo pessoal

  • O que é e como é feito um deepfake?

“O deepfake é uma técnica de síntese de imagens e sons que utiliza IA para criar um conteúdo falso, porém realístico. Aos nossos olhos, ele é perfeito. Dependendo do profissional (que faz o deepfake), o conteúdo fica imperceptível até para outros profissionais”, conta Sartori.

Editados em ferramentas que utilizam machine learning, vozes e rostos de pessoas são substituídos em vídeos e imagens que podem ficar bem convincentes. Sartori explica que só é possível fazer esses materiais a partir do fornecimento de milhares de fotos e vídeos das pessoas que, por sua vez, são processadas por redes neurais. Com essas informações, a máquina é treinada, reconhece padrões e aprende como o rosto de uma determinada pessoa se expressa.

O treinamento pelo qual a máquina passa é feito com o rosto de um vídeo original e com um novo rosto. Após o treinamento – que pode durar horas ou semanas -, a ferramenta é capaz de encontrar um ponto em comum entre o rosto original e o substituto, e faz a costura das duas. Como resultado, temos vídeos como esse:

  • Como o deepfake está sendo usado?

Desde o seu surgimento, o deepfake vem sendo usado de maneira positiva e negativa. Por exemplo, quando o código fonte foi liberado em um fórum americano em 2017, as pessoas logo foram usar a ferramenta para fazer conteúdos pornográficos. Hoje, ela é usada de diversas maneiras. Sartori, por exemplo, usa a técnica para fazer conteúdos humorísticos. Já na época das eleições, ela foi usada para criar fake news (notícias falsas).

Para o futuro, Sartori prevê: “em até cinco anos, a gente vai ter a tradução em tempo real de voz. Você vai conversar com uma pessoa por vídeo, de qualquer lugar do mundo, e a pessoa do outro lado vai te ouvir falando com a sua voz, mas no idioma dela. Você vai labializar no vídeo o que ela estiver vendo no idioma dela. Daqui, você vai estar falando em português e, do outro lado, a pessoa vai te ver falando em mandarim ou em qualquer outra língua”, diz Sartori.

O uso negativo da deep fake, no entanto, vai continuar sendo feito. Os golpes, por exemplo, vão estar cada vez mais modernizados. Sartori conta que, se hoje as pessoas já fazem contato com supostos parentes para pedir dinheiro através de aplicativos de mensagens, em breve será possível aplicar esses golpes através de vídeos, uma vez que já é possível copiar a forma de uma pessoa falar e gesticular.

Sartori alerta que os deepfakes sempre devem vir sinalizados, mas nem sempre isso é feito. De acordo com a legislação brasileira, é possível ser condenado, caso se faça o uso indevido da técnica, mas as consequências podem ser difíceis de reparar. Por isso, é importante estarmos sempre atentos aos conteúdos que consumimos.

A IA vai substituir o profissional de copy?

O terceiro palestrante do evento foi o redator sênior e tutor da EBAC, Felipe Sanches. Ele tem mais de 15 anos de experiência no mercado publicitário e vem acompanhando de perto o uso das IA no setor de comunicação.

Redator sênior e tutor da EBAC Felipe Sanches. Fonte: arquivo pessoal

  • As IAs não possuem emoções

Logo de cara, Sanches compartilhou com o público, o vídeo de uma propaganda da Dove que ganhou diversos prêmios. Nela, percebe-se uma sensibilidade com a qual, todo mundo que assiste, consegue se conectar. Por trás desse vídeo, há uma lição. “O que eu quero trazer aqui é essa parte da sensibilidade, da emoção, que – talvez eu vá romantizar essa história – a máquina não vai conseguir traduzir. A gente é que sente”, reflete Sanches.

Para Sanches, apesar das IAs como o ChatGPT darem respostas tendo como fonte uma base de dados gigantesca, elas não conseguem se expressar com tanta perfeição como os seres humanos. Para ratificar esse pensamento, Sanches fez a pergunta “você tem emoção?” para o ChatGPT e ele próprio respondeu: “embora eu possa simular respostas emocionais, com base nas informações e exemplos fornecidos, isso é apenas uma imitação e não reflete verdadeiras experiências emocionais.”

Por conta dessa lacuna emocional das IAs, Sanches acredita que elas não vão substituir profissionais que trabalham com comunicação. Inclusive, ao perguntar novamente ao ChatGPT “você vai substituir os profissionais de copy?”, ele responde: embora eu possa fornecer sugestões, ideias e até mesmo gerar trechos com base em exemplos fornecidos, ainda é necessário o julgamento humano para avaliar a eficácia e adequação de uma cópia.

Por isso, a existência de ferramentas como Copy.ai, Jarbas, Copybase, ChatGPT e Midjourney não é ameaçadora. Pelo contrário, elas podem ser aliadas desses profissionais.

  • IA, um aliado potente

Sanches conta que, em seu dia a dia, já fez uso de ferramentas como o ChatGPT para auxiliá-lo em pequenas tarefas, como a criação de uma legenda para um post, um texto de peças menores ou para fazer uma call to action (CTA ou, em português, chamada para ação). Porém, para fazer isso, é preciso cautela.

“Teve um dia desses que eu precisei criar uma call to action que tinha que sair do padrão. Eu pedi para o ChatGPT criar 10 opções e quatro delas, ou seja, 40% não faziam sentido naquele contexto. Então, se eu não sei do que eu estou falando, se eu dou um ‘copiar, colar’ e replico, aquilo ali vai ficar errado. Então (…), o senso crítico de quem está usando a máquina ainda é muito importante”, conta Sanches.

Um dos benefícios que essas ferramentas trouxeram foi que, agora, os profissionais podem passar menos tempo digitando e mais tempo fazendo aquilo que importa. E, aqui, Sanches faz um alerta: é preciso refletir sobre esse ‘tempo de sobra’. “As empresas vão investir nesse tempo que os profissionais estão ganhando para, de repente, eles aproveitarem e terem mais qualidade de vida ou as empresas vão se aproveitar dessa velocidade para continuar cobrando mais (…) e para continuar ganhando em cima desse tempo que a IA propicia?” Essa é uma das reflexões importantes a serem feitas.

Para finalizar, Sanches reforça: “eu acho que (essas ferramentas) não vão substituir o profissional de copy. Eu fico muito bravo quando ouço essas previsões. Mas a gente pode usá-las como uma ferramenta potente para trabalhar em conjunto no dia a dia. (Podemos) usá-las como aliadas e não ficar angustiados (pensando) que vão substituir o profissional de copy ou de comunicação.”

De forma geral, é necessário ter cautela ao utilizar as IAs em seu dia a dia profissional. É preciso sempre lembrar que as respostas dadas precisam ser revisadas por seres humanos, os únicos capazes, até então, de avaliar criticamente o que é gerado por essas tecnologias.

Inteligência Artificial

Slide apresentado pelo Felipe Sanches em que faz a comparação entre inteligência artificial e inteligência humana. Fonte: arquivo pessoal

Para conferir na íntegra as palestras do evento “Os impactos da Inteligência Artificial (IA) na criação e no trabalho”, clique aqui ou confira o vídeo abaixo:

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Bruna Montenegro

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