EBAC entrevista: Chico Felitti

Última atualização
14 fev 2024
Tempo de leitura
9 min
Chico Felitti e o universo do podcast

Conversamos com o jornalista Chico Felitti sobre o universo do podcast e pedimos dicas para quem quer começar a produzir o seu. Confira!

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Quem tem o costume de ouvir podcast, muito provavelmente já deve ter escutado o nome de Chico Felitti – que, inclusive, já participou do EBAC Talks “O Poder da Narrativa”.Jornalista, sociólogo, escritor e roteirista brasileiro, Chico, nos últimos anos, tem produzido e colocado sua voz inconfundível em obras que fizeram sucesso entre o público: A Mulher da Casa Abandonada, Além do Meme, O Ateliê e A Coach são alguns deles.

Apesar de o podcast ser um formato de mídia relativamente recente, para muitos, Chico já é considerado um dos podcasters brasileiros de mais destaque, quando falamos em podcast narrativo. E foi justamente essa nova mídia, que tem conquistado tantos brasileiros, que foi o tema do nosso bate-papo com Chico. Confira a entrevista!

Como você avalia este momento que estamos vivendo em relação ao storytelling e aos podcasts?

“Acho que a gente está tendo uma renascença da história, da importância de contar história, depois de um período em que a gente achou que fosse uma coisa muito pequena. De repente, as pessoas voltaram a se dar conta de que elas gostam disso – não que elas tenham parado de gostar em algum momento, mas elas deixaram de se dar conta do quanto elas gostavam.

Daí, nessa nova era de ouro do áudio, as pessoas falaram ‘pô, eu gosto de ouvir a Déia Freitas (criadora, curadora, apresentadora e roteirista do podcast Não Inviabilize) contando histórias’ e se deram conta de como aquilo preenchia um espaço que elas nem sabiam que tinham, como aquilo era satisfatório.

E a gente está tentando trazer isso (o novo cenário do áudio) para uma nova realidade, mudando o que era do rádio para uma nova tecnologia, uma nova maneira de ouvir, uma nova maneira de consumir, novos temas… Não mudou só a embalagem, mudou o conteúdo.

Era impensável, até recentemente, que você falasse de histórias tão diversas, no sentido das pessoas que contam as histórias, e também dos temas das histórias. Até uns 20 anos atrás, eram pessoas muito parecidas que contavam histórias. Hoje em dia, você tem pessoas de perfis diferentes, então tem Maickson Serrão, que é indígena, tem a Déia Freitas, que é uma mulher preta, entre os grandes nomes, e isso é inacreditável. Então, nós estamos indo na direção certa, mas ainda tem chão para trilhar.”

Qual a importância da gente falar sobre podcast hoje em dia?

“O maior termômetro é a molecada que quer fazer podcast. Quando você vê o tanto de gente que fala ‘quero fazer (um podcast)! Como começar?’, você entende que tem futuro. Tudo bem, (toda tendência) é uma onda e daqui a pouco baixa, mas se virou uma profissão desejada ou se virou uma coisa que as pessoas querem fazer, é porque elas consomem e querem replicar. É um sinal de que é uma marca na cultura. As pessoas estão levando isso a sério, e o mercado, o marketing e todo mundo tem que levar bastante a sério também.”

Quais dicas você daria para alguém que quer começar um podcast? Como escolher um tema legal?

“Primeiro, que (o tema) te interesse legitimamente. Faça um projeto que não se pareça com outro que já deu certo. Não faça algo parecido com o Wanda ou com o Mano a Mano. Faça algo que seja legitimamente seu e que te interessa de verdade.

Segundo, faça o que você consegue fazer agora. O grosso das pessoas com quem eu converso – e é muita gente -, fala ‘ah, porque o dia que eu fizer uma viagem para a Bulgária, eu vou conseguir contar essa história’ ou ‘o dia que eu conseguir juntar o Samir e a Jamile na mesma mesa, eu vou fazer esse podcast’. Não! Faz com o que você tem hoje.

O podcast, de fato, é uma mídia mais democrática, no sentido de que você consegue fazer um podcast com o que você tem na mão. Hoje, você consegue gravar com um celular e o resultado vai ficar quase tão profissional quanto o de alguém que tem um orçamento grande. Só vai ter uma diferença, que é o equipamento, mas para quem ouve é uma diferença muito sutil.

Então, por que não aproveitar dessa liberdade para fazer agora? Por que ficar adiando e esperando as condições ideais? As condições ideais nunca vão existir. Todo mundo que faz podcast no Brasil e que conseguiu algum destaque, começou nas condições menos ideais possíveis.

Eu acho que o podcast é uma mídia que aceita um amadorismo, no sentido de que você não precisa ser a TV Globo, com 18 câmeras e 8 redatores. Você consegue fazer um projeto da sua casa que pode impactar muita gente. Então, faz agora. Com uma ideia que seja sua, que seja autêntica, e que você consiga fazer agora. Senão a gente cai nessa arapuca de ficar ‘vou fazer daqui a pouco quando eu tiver o microfone ideal’ ou ‘vou fazer daqui a pouco quando eu conseguir uma passagem para o Amapá…’. Não, vai sem o microfone e sem a passagem para o Amapá. Faz agora!”

Chico Felitti, jornalista, sociólogo, escritor e roteirista brasileiro, que, nos últimos anos, tem produzido e colocado sua voz inconfundível em obras que fizeram sucesso entre o público: A Mulher da Casa Abandonada, Além do Meme, O Ateliê e A Coach são alguns deles. Imagem: EBAC

Quais ferramentas são necessárias para começar um podcast?

“Para fazer um podcast narrativo você pode usar um gravador. Tem gravador decente que custa 150, 200 reais, por exemplo, e o meu computador custou literais 100 dólares – é um chromebook bem simples, que eu já usei para editar várias coisas.

Então, dá para fazer com pouco. O que eu acho fascinante no podcast é que quem tem muita estrutura, dinheiro e equipamento vai fazer um podcast 10% melhor do que alguém que não tem equipamento nenhum.

Se você parar para comparar com outra mídia, é diferente. Por exemplo, você tem uma câmera profissional e uma câmera chinfrim. A diferença de resultado vai ser gigante. No podcast, a diferença é muito pequena, o grosso do público não vai se incomodar. Por isso, ele é mais democrático.”

E é a narrativa que prende a pessoa?

“Em caso de mesacast (programa que é transmitido em plataformas de vídeo e conta com apresentadores que recebem entrevistados) é a química, a liga, o carisma das pessoas. No caso do podcast narrativo, é a história. As pessoas vão querer ou não vão querer ouvir aquela história. Acho que passa muito por você, pela sua voz, pela sua aparência quanto passa pela sua capacidade de achar uma história que as pessoas vão se envolver e vão querer ouvir mais.”

Para você, quais são as melhores características do podcast para contar história?

“Eu acho que o podcast tem uma riqueza muito grande que é a de chegar em lugares que ninguém mais chega, justamente por essa facilidade e dessa possibilidade de se fazer um podcast. Ele vai irrigando e vai entrando em lugares que outras coisas não entrariam.

Por exemplo, eu ouvi o Pavulagem, o podcast do Maickson Serrão que ganhou um prêmio do Spotify. No podcast, ele conta histórias amazônicas enquanto conversa com pessoas que conhecem as histórias e as lendas. Isso dificilmente seria feito na televisão, porque envolveria um orçamento de milhões. E ele, com um gravador, foi lá e fez.

Esse seria um tipo de conteúdo que eu não teria contato de outra maneira. Talvez num livro? Talvez, mas acho improvável. No podcast você ouve a voz dele, a narrativa das pessoas que revivem essas lendas, e é único. Então, para mim, é, de fato, trazer histórias, vozes e conversas que eu não teria acesso de outra maneira. Isso eu acho fascinante!”

Qual a maior dificuldade que essa indústria enfrenta?

“Atualmente, é a de ser levado a sério. Acho que o podcast é um caçula tratado meio como uma criança pelo mercado. Porque para produzir, você precisa de recursos. Tudo bem, (é comum) fazer um projeto ali na unha, todo mundo já fez – muito podcast eu paguei para fazer. Eu tinha um trampo e eu fazia o podcast porque eu queria fazer. Mas não dá para um mercado crescer e florescer só na teima, sendo só hobby das pessoas. Ele precisa ser levado a sério porque é sério. As pessoas escutam a sério, milhões de pessoas escutam no Brasil, mas acho que ainda tem um descompasso, um atraso de certos setores. E não falo só de publicidade, mas de grupos editoriais mesmo, de entender de como isso é importante e tratar com a devida importância.”

***

Quer saber mais sobre a visão do Chico Felitti sobre esse universo? Então, assista ao EBAC Talks “O Poder da Narrativa”, evento que recebeu ele e outros renomados profissionais do audiovisual para um bate-papo descontraído.

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Bruna Montenegro

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