Danilo Dabague: o profissional multifacetado que dá vida a Lorelay Fox (parte 1)

Última atualização
01 jun 2023
Tempo de leitura
11 min
Danilo Dabague o profissional multifacetado

Conversamos com Danilo Dabague, que compartilhou conosco a história da sua trajetória profissional recheada de transformações ao longo dos anos.

Drag queen, publicitário, designer gráfico, professor de Photoshop, vendedor de maquiagem, entregador de panfleto, YouTuber, influenciador digital e podcaster. Essas são algumas das profissões que Danilo Dabague – criador da drag queen Lorelay Fox – já teve até aqui.

Para quem vê essa trajetória de fora, pode parecer que Danilo tenha se reinventado profissionalmente ao longo do tempo. Mas, para ele, reinvenção não é bem a palavra certa. Danilo define as mudanças de sua caminhada profissional como uma transformação em cima de quem ele sempre foi. O resultado disso, nós podemos ver facilmente em seus trabalhos compartilhados, hoje, com milhares de seguidores em diferentes plataformas.

Para entender mais sobre a sua carreira profissional, conversamos com Danilo. Na entrevista, que dividimos em duas partes, Danilo nos contou como ele era na época da escola, como atuou no mercado publicitário, como a arte drag entrou na vida dele e por que decidiu entrar no YouTube. Confira agora a primeira parte do nosso bate-papo.

Entrevista com Lorelay Fox

Danilo Dabague é a mente criativa por trás da Lorelay Fox, drag queen que faz sucesso na internet e acumula milhares de seguidores em diferentes plataformas

Estudante dedicado e com afinidade para o mundo das artes

Como era Danilo na época da escola?

“Eu sempre fui o aluno mais nerd possível. Eu era muito dedicado. Estudei em uma escola pública até a oitava série, em Sorocaba. E na oitava série, tinha um vestibulinho para entrar no Colégio Politécnico de Sorocaba – um colégio maçom e filantrópico – e de toda a minha escola, fui o único que conseguiu passar, justamente por ser o mais nerd. Inclusive, eu sofria bullying por conta disso.

E eu tenho pesadelo até hoje de que estou indo mal na escola, é uma coisa que me atormenta. Mas eu fui um ótimo aluno, adoro estudar e sinto saudade de estudar, inclusive.”

Você tinha alguma matéria preferida?

“Eu sempre me dei bem nas matérias de humanas, mas isso não significa que eu não gostava de exatas. Eu até gostava, sabia? Porque eu acho que tem um gosto diferente quando você consegue uma nota boa em exatas, você se sente inteligente. Mas eu também não conseguia ir bem sempre, realmente era bom em português, artes, amava literatura e história. Sempre gostei muito desse lado.”

Você tem muita afinidade com a área das artes. Nessa época da escola, você já tinha identificado essa sua habilidade?

“Eu desenho desde criança. Com uns 10 anos, eu já desenhava muito bem e a minha avó pagou um curso de desenho para mim. Eu passei dois anos nessa escola de desenho e desenvolvi muito o meu lado artístico. Então, dos 10 aos 12 anos, estudei nessa escola e isso mudou tudo para mim dali em diante. Eu olho para aquele momento da minha vida e acho que ele pautou tudo o que eu fiz e faço. Eu uso desenho em tudo até hoje.”

O curso de publicidade, apesar de ter sido uma escolha aleatória, foi um grande acerto

Por que escolheu o curso de publicidade?

“Sendo bem sincero, eu não esperava entrar numa faculdade. Eu sou de uma família bem humilde que morava na periferia de Sorocaba. Eu estudei em um colégio muito bom, mas só consegui entrar nele porque era uma instituição filantrópica.

Na época de fazer uma faculdade, eu não tinha perspectiva de passar numa universidade pública e não tinha dinheiro para pagar um curso superior. Mas daí surgiu o Prouni e eu vi que poderia escolher um curso porque a minha nota do ENEM tinha sido babadeira e a minha redação tinha sido um escândalo! Eu fui ver os cursos e pensei ‘acho que publicidade é um curso legal!’. Como segunda opção – eu não tenho certeza – acho que coloquei letras.

Mas a publicidade surgiu meio aleatoriamente. Eu não conhecia a área, mas eu sabia que poderia usar o Photoshop, que era uma ferramenta que eu já me interessava e mexia havia algum tempo – inclusive, muitos anos depois de me formar, eu dei aula de Photoshop na mesma escola de desenho em que estudei quando era criança.

Então, eu achava que poderia me dar bem, mas não imaginava como era a área. Só que foi uma coisa do destino! Eu acho que não poderia ter escolhido outro curso. Para mim, ele é incrível e eu adorei ter feito. Mudou a minha vida!”

E na faculdade, como você era?

“Eu gostei muito da faculdade. Quase todas as matérias tinham a ver com áreas em que eu tinha interesse. Quando tive a primeira aula de semiótica, achei a coisa mais legal do mundo! É tudo maravilhoso. Ninguém ficava tão empolgado quanto eu. Acho que eu era muito nerd nesse sentido. E, imagina, você entra na faculdade – lá em 2005 – sendo o único que sabia mexer no Photoshop? Já ali eu percebi que estava no lugar certo. Logo de cara eu adorei.”

Como foi a sua trajetória no mercado publicitário?

“Eu só fiz um estágio na área de publicidade. Depois eu consegui trampos mesmo. O estágio foi numa agência de assessoria de comunicação interna de indústrias em Sorocaba e era bem diferente do que eu imaginava. Eu achava que iria criar vários anúncios legais, mas era só comunicação interna mesmo. Mas eu amava!

Depois dessa primeira agência, trabalhei em uma outra bem diferente. A gente fazia sites, e eu fui para um outro universo, que era o de trabalhar com layout de site. Aprendi essas coisas de HTML, programação, flash… Foi um outro universo em que eu entrei e amei muito. E ali acho que aprendi várias coisas sobre comunicação para internet que eu uso até hoje.

Depois eu pedi demissão e, nesse período, foi quando a parte drag me deu dinheiro pela primeira vez. Eu entregava panfleto na frente de uma loja lá em Sorocaba, vestida de drag. Depois, uma mulher me chamou para ser vendedor de maquiagem em Itu, uma cidade vizinha. Eu trabalhei lá por um ano, mais ou menos, e amava também, era um bafo!

Depois disso, entrei numa outra agência bem pequena, tinha uns quatro funcionários. Após um ano, o escritório dessa agência fechou e eu trabalhei em home office por uns sete anos. E era nessa agência que eu estava quando criei o meu canal no YouTube.

Eu amei a maioria dos trabalhos que eu tive. Eu sinto muita saudade de trabalhar com publicidade, inclusive. Eu gostava das pessoas com as quais trabalhava e pude aprender o que não havia visto na faculdade.”

A arte drag queen

Como foi que surgiu a arte drag queen em sua vida?

“Eu lembro que desenhava drag queens no papel. Toda bicha cresce desenhando guerreiras mágicas como Sailor Moon. E quando você é drag, você tem a chance de se tornar uma delas na vida real. Então, acho que veio muito disso, dessa identificação com essas personagens icônicas e de poder viver isso na vida real.

Mas eu comecei mesmo (a ser drag) porque comecei a frequentar o meio (LGBTQIAP+) lá em Sorocaba. No começo, eu via as drags, mas não me interessava muito. Só que um amigo meu queria se montar. E daí ele começou a me convencer ‘ah, vamos ser drag juntos!’. Ele me arrastou e entramos em um concurso. Eu gostava, mas não levava a sério. Só que daí, o dono da boate me chamou para trabalhar. Eu aceitei e fui. E foi assim que tudo começou!

A minha carreira de drag teve início antes de eu entrar na faculdade, comecei a mexer nesse meio com uns 17 anos. E, profissionalmente, com uns 18. E trabalhei na boate de Sorocaba paralelamente às outras coisas que eu fazia.”

O que você acha que fez com que as drag queens ganhassem mais visibilidade nesses últimos anos?

“Eu não tenho dúvida alguma de que o que fez isso acontecer foi o RuPaul’s Drag Race. Existiu toda uma geração de gays que não iam para a boate ver as drags. Era uma arte que estava morrendo – foi por isso, inclusive, que eu comecei a ter a ideia de criar o meu canal. Com o RuPaul’s Drag Race, ao invés de ver as drags na boate, as pessoas começaram a ver na internet. O pessoal começou a acompanhar e a querer ser drag.

Então, quando os episódios do reality show chegaram ao Brasil, foi um grande boom. A partir disso, a comunidade LGBTQIAP+ começou a perder o preconceito. A gente começou a furar as bolhas e a acessar todo mundo. Por isso que, hoje em dia, as drags estão em lugares onde a gente não imaginava. Pabllo Vittar e a Gloria Groove – as drags mais famosas do Brasil – começaram a ser drags por causa de RuPaul.

E, olhando para a minha carreira, quando eu comecei a ser drag há 18 anos, jamais imaginaria que isso tudo aconteceria. Eu vi um declínio da cultura drag em Sorocaba e nunca imaginei que as pessoas iriam valorizar essa arte. Era algo do submundo, do meio gay. Hoje em dia, não mais. Mas tudo isso foi por conta da internet e de RuPaul. Depois do reality, vieram as drags brasileiras com força total e hoje todo mundo já enxerga as drags de uma maneira diferente. Foi uma revolução mesmo.”

drag queens

Lorelay Fox

O YouTube

Como surgiu o YouTube na sua vida?

“Eu adorava a internet como um todo. Acho que toda criança dos anos 90 amava a internet, porque a gente tinha uma outra visão. Ali eu podia ter contato com a vida de pessoas que eu não acessava em outros lugares.

Acho que a primeira celebridade em que eu fiquei viciada na internet foi o Jeffree Star, uma drag queen dos Estados Unidos – hoje em dia ele é canceladíssimo. Ele foi a primeira pessoa que eu pensei ‘nossa, preciso ver todos os vídeos dele!’. Na época, não existia YouTube ainda, mas ele postava vídeos no MySpace, eu achava incrível e queria ser ele.

E, depois disso, começaram a aparecer os YouTubers brasileiros que eu acompanhei muito. Eu era completamente viciado no PC Siqueira, no Cauê Moura… Eram as únicas referências que eu tinha de pessoas legais na internet, já que não havia LGBTQIAP+.

Mas o que me fez mesmo querer estar no YouTube é porque eu sabia que me comunicava bem e não encontrava na internet aquilo que eu queria ver. Daí criei o canal que eu queria assistir. E essa é a coisa mais legal que se pode fazer: criar aquilo que você gostaria de consumir para ficar realmente genuíno.

Além disso, eu passei por uma decepção amorosa babadeira e estava naquele momento assim ‘gente, eu preciso fazer algo por mim!’. E decidi que aquele era o momento de criar o canal, e foi assim que eu fiz. Precisou de uma pulsão emotiva também.”

Como surgiu o YouTube na sua vida

Os primeiros vídeos do canal da Lorelay Fox, criado em 2015. Imagem: https://www.youtube.com/@lorelayfox/videos

Amanhã publicaremos a segunda parte da entrevista com Danilo. Ele nos contou como aconteceu a sua saída do universo publicitário para se tornar YouTuber, se a sua formação profissional o ajuda a lidar com os haters na internet e faz reflexões sobre a sua carreira e o futuro profissional.

Não perca: amanhã (13/04) vai acontecer a EBAC LIVE com a Lorelay Fox! No evento, que será gratuito, a Lorelay vai conversar com o Pedro Brocaldi (professor da EBAC) sobre as carreiras em TI. Clique aqui e faça a sua inscrição!

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Bruna Montenegro

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