Maternidade compartilhada na internet: benefícios e desafios

Conversamos com a criadora de conteúdo Camila Lucoveis, que nos contou como é dividir com a internet a sua trajetória maternal em uma família que não é tradicional.
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Ser mãe já é um desafio imenso. Agora, imagina compartilhar a jornada maternal com milhares de pessoas? Esta foi uma decisão que a criadora de conteúdo Camila Lucoveis, 31 anos, tomou há alguns anos junto com Laura Gama, sua namorada na época. Hoje, vemos que essa atitude foi muito importante para a comunidade lésbica, afinal de contas, elas mostraram para o mundo que era possível, sim, duas mulheres contituírem uma família.
Através de uma reprodução assistida, nasceu Lavínia – ou, como é carinhosamente chamada, Laví – e, há quase cinco anos, Camila continua compartilhando o seu maternar na internet. Para saber mais sobre essa trajetória de dividir as etapas da maternidade com seus seguidores, entrevistamos Camila, que nos contou um pouco mais sobre a sua desafiante e incrível caminhada.

A criadora de conteúdo Camila Lucoveis com a sua filha Lavínia
Camila, como você iniciou a carreira de criadora de conteúdo?
Eu comecei (a carreira de criadora de conteúdo) antes de ser mãe. Mas a ideia e a vontade de ser mãe foram o que realmente me motivaram para que eu compartilhasse a minha história na internet. E o que me fez querer estar na internet especialmente foi o fato de que eu queria muito ter um filho com a minha namorada na época e eu não tinha referência de pessoas que fossem jovens, lésbicas e que quisessem ou tivessem um filho – mesmo fora da internet.
Nós começamos no YouTube em 2015 e, quando decidimos ter um filho, pensamos “precisamos dividir esse processo na internet para que mais pessoas entendam como é, como funciona, qual é a logística, quais são as dificuldades, principalmente da etapa de duas mulheres terem um filho através de reprodução assistida.” Essa era a nossa meta.
E eu acho que nós não tínhamos noção do quanto isso era necessário. Foi realmente algo intuitivo. Não tinha ninguém falando sobre isso no YouTube Brasil. Então, começamos com esse objetivo.
Como foi a aceitação do público a respeito do canal?
Como nós começamos no YouTube, que é uma plataforma onde os vídeos que viralizam vão para todas as bolhas e atingem todo mundo, eu senti que as pessoas ficaram com os olhos brilhando.
Nós, desde o começo, tivemos esse retorno sobre fazer as pessoas se sentirem representadas. Recebíamos comentários como “nossa, não é porque eu sou lésbica que eu estou fadada a não construir uma família”, sabe? Até me arrepia falar disso porque é uma coisa que continua até hoje, é muito legal!

No canal Mãe no Plural é possível acompanhar a trajetória de Camila e Laura na construção de uma família. Imagem: https://www.youtube.com/@MAENOPLURAL/videos
Eu imagino que compartilhar o seu maternar na internet tenha seus momentos difíceis. É complicado realmente?
Eu acho que ser mãe dentro e fora da internet é receber pitaco. Existe muito comentário indesejado. É invasivo. A sensação que as pessoas têm é essa: se você colocou na internet, então você não tem o direito de se incomodar se alguém se meter na sua vida. E não é verdade. Eu compartilho conteúdos na internet, mas as pessoas não sabem da minha realidade. Aquilo que eu publico é um recorte da minha vida.
Só que assim, terapia, né? Eu faço terapia desde os 13 anos de idade, estou com 31, então, hoje em dia, eu entendo que muito do que as pessoas falam diz muito mais sobre elas do que sobre mim. Então eu tento não absorver tanto.
E qual a melhor parte de falar sobre maternidade na internet?
Com certeza a melhor parte é a troca com as minhas seguidoras, muitas delas são minhas amigas pessoais. É o que faz, no final do dia, mesmo de um dia difícil, tudo valer a pena.
Por exemplo: a minha filha tem uma seletividade alimentar que é natural da idade, mas que é complicado de lidar – inclusive, é a principal fonte da minha ansiedade atualmente. E é muito difícil você ver na internet vidas perfeitas e ter que quebrar essa barreira para falar “não, a minha filha não come de tudo”. Mas aí vem uma pessoa que dá dicas sobre o assunto e faz uma troca saudável. Eu acho que essa parte é a que vale a pena mesmo, além de poder conhecer pessoas incríveis.
Como é o seu dia a dia como criadora de conteúdo?
Eu tento fazer um conteúdo orgânico. Desde que eu comecei a entender o valor do que eu faço na internet, eu tento respeitar muito o quão natural isso precisa ser.
Tem dias que eu não estou bem – eu tenho depressão e ansiedade diagnosticadas desde muito cedo – e isso é uma das coisas que eu falo ali (nas redes sociais). As minhas seguidoras sabem disso e são uma rede de apoio para mim. Depois que as crises passam, sempre rola um textão com o qual muita gente se identifica.
E a rotina com a Laví, hoje em dia, está mais tranquila. Eu sou separada da mãe dela e a gente faz divisão da guarda. Então, ela fica uma semana em cada casa. Na semana que eu estou sem a Laví é a semana que eu fico trabalhando mesmo, para produzir todas as demandas de publicidade que eu tenho.
Agora eu estou com uma equipe que me ajuda com roteiro, outra pessoa que faz a captação de vídeo, estou com assessora… Tem algumas mudanças que eu estou fazendo por estar me sentindo muito cansada por cuidar de absolutamente tudo. Isso tem facilitado um pouco mais o meu dia a dia.
Mas realmente não tem uma rotina. As coisas vão fluindo e eu tento deixar tudo o mais orgânico possível, sem me cobrar de gerar conteúdo porque eu crio conteúdo sobre a minha vida, então eu preciso que as coisas aconteçam para que eu possa publicar.
A Laví aparece em alguns momentos em suas redes sociais e participa de algumas publicidades que você faz. Como é esse processo?
Ela entende que esse é o meu trabalho. Ela sabe que estamos na internet para falar sobre a nossa família, sabe que a nossa família não é tradicional, sabe o quão importante é o que nós fazemos e o quanto a existência dela toca a vida das pessoas.
Como ela está crescendo, agora nós perguntamos para ela se podemos filmá-la, se está tudo bem, se podemos postar… Nós respeitamos a Laví e a individualidade dela. Entendemos que o que nós fazemos é nosso, não é a Lavínia realmente. Eu estou ali compartilhando a minha maternidade e a Laví aparece às vezes.
Durante as gravações das publicidades em que ela participa, ela se diverte muito. Eu tento deixar esse momento o mais natural possível. Nós fazemos de um jeito que seja legal para ela, afinal, não é uma obrigação dela. Inclusive, todo mundo que trabalha comigo entende que ela é uma criança, então, se a Laví não está bem, damos um jeito, adiamos a gravação e todo mundo colabora.
Além disso, a Laví tem uma conta poupança, que é onde colocamos dinheiro todo mês, e também o dinheiro das publicidades em que ela participa.

No Instagram, Laura compartilha com os seus seguidores o seu dia a dia. Imagem: https://www.instagram.com/thewinteriscami/
Para você, quais são os maiores desafios de ser mãe e criadora de conteúdo?
Eu acho que o principal desafio de ser mãe e criadora de conteúdo é a parte de ser mãe. É muito cansativo! Não tem desafio maior. Mas como criadora de conteúdo que fala sobre maternidade, eu acho que um desafio que eu tenho é o de conseguir quebrar a barreira da maternidade compulsória.
Desde que a Lavínia estava na minha barriga, eu comecei a ler um pouco mais sobre desenvolvimento humano e a entender sobre criação consciente e respeitosa. Na internet, eu sou uma mãe junto com outra mãe, que tenta falar sobre a criação de um ser humano e do quanto isso é complexo. Não é só mantê-lo vivo que está tudo bem. Não é! Nós precisamos ter responsabilidade e saber que as nossas ações vão impactar para sempre essa pessoa que estamos construindo.
Então o meu desafio atualmente tem sido esse, ser uma fonte de inspiração de criação consciente, e eu acho que estou conseguindo me sair bem.
Como você reflete a sua caminhada até aqui?
Esses dias eu estava conversando com a Laura – a outra mãe da Laví – e a gente estava falando sobre o quanto a Camila e a Laura de 20 e poucos anos não tinham ideia da importância do que elas estavam fazendo. E eu sinto que a gente foi muito além do que esperava. Ter trabalhado com marcas como Google, marcas grandes… eu nunca imaginei.
Quando a gente começou, a gente só queria que mulheres lésbicas soubessem como funcionava para fazer uma inseminação. E a gente não tinha noção da potência disso. E eu sinto que, hoje em dia, aquelas meninas que tinham um sonho ficariam muito orgulhosas de tudo o que foi alcançado. Existem crianças que estão no mundo por nossa causa e é muito lindo saber disso!
Eu nunca imaginei que eu fosse chegar nesse lugar. E me entender como uma comunicadora ao longo desse processo foi especial também. Eu sinto que existe uma Camila antes de eu me tornar uma comunicadora e outra depois. Além disso, querendo ou não, a internet me permitiu estar com a minha filha em tempo integral nos primeiros cinco anos de vida dela, e isso é algo que me deixa muito feliz.
Quais dicas você daria para uma mãe que está pensando em falar sobre maternidade na internet?
Tente não trazer as críticas para você. Entenda que muito do que o outro fala é realmente sobre o outro. E tente se permitir colocar para fora as coisas sem medo do julgamento. Sempre vai ter alguém fazendo a mesma coisa que você. Sabe aquela coisa que você faz, a outra pessoa vê e fala “eu também faço isso!”? Nesse momento, são duas pessoas que fazem a mesma coisa e se sentem acolhidas no mesmo lugar.
Então, se você está com vontade de começar a compartilhar conteúdos na internet, vai com a cara e com a coragem porque, no final das contas, vale a pena, é uma troca incrível.
E terapia em dia, gente! O hate vai acontecer. Então se você está com a terapia em dia para trabalhar essas questões, vai ajudar bastante!






Profissão: Ilustrador
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