A desigualdade de gênero no setor audiovisual do Brasil
O audiovisual ainda é um mercado dominado por homens. Saiba quais medidas é possível adotar para combater esta desigualdade
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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira é composta por 51,8% de mulheres e 48,2% de homens. Apesar das mulheres representarem a maioria da população, os homens são a maioria da força de trabalho do Brasil (73,7%, de acordo com o IBGE).
Esta desigualdade é refletida em vários setores, inclusive no audiovisual. Diante deste cenário, as profissionais que atuam neste mercado acabam sofrendo as consequências desta desigualdade.
Para saber mais sobre o assunto, conversamos com Érica Modesto, professora do curso de Documentário da EBAC, que está há mais de 10 anos na área do audiovisual.
É importante ressaltar que, neste texto, estamos falando de mulheres no geral. Ao analisar mais a fundo, há também muita desigualdade de oportunidades entre as próprias mulheres. Entre as que recebem mais oportunidades nesse mercado estão as mulheres brancas. As negras, indígenas, trans, periféricas e, inclusive, mães, por exemplo, recebem ainda menos oportunidades para atuar neste mercado.
Poucas mulheres ocupam posições de liderança no audiovisual
De acordo com a última pesquisa feita pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), em 2016, que analisou 142 longas-metragens lançados comercialmente em sala de exibição, a maioria das histórias produzidas no país foi feita do ponto de vista masculino.
A análise identificou que apenas 19,7% das obras foram dirigidas por mulheres, sendo nenhuma delas negra. Ou seja, os homens são a maioria quando olhamos para a posição de direção. Além disso, a pesquisa mostrou que são eles que ocupam as principais funções de liderança no cinema: 68% assinaram o roteiro dos filmes de ficção, 63,6% dos documentários e 100% das animações de 2016. Os homens também dominam as funções de direção de fotografia (85,2%).
De acordo com Érica, há mulheres no audiovisual, mas elas normalmente ocupam sempre as mesmas posições. Essas funções são a de produção, figurino e maquiagem. Virou quase uma espécie de lugar-comum em relação a ser um cargo onde as mulheres estão, já que não são funções que exigem, necessariamente, um esforço físico.
“O que impressiona é a ausência de mulheres em postos como o de direção de fotografia e som. Você praticamente não as vê em funções técnicas mais pesadas, como assistente de câmera, porque ficou realmente associado a precisar carregar peso e ser durão. É muito mais o estigma que faz as mulheres não estarem nesses lugares”, conta Érica.
Érica ainda acrescenta que a posição de direção de arte é uma função que exige esforço físico e ainda assim há um pouco mais de mulheres ocupando este cargo. Ou seja, não há justificativa para elas não estarem em outras funções. Já se tornou natural ver homens em posições de liderança na área, porém, é urgente mudar esta realidade.
Falar sobre diversidade pode ajudar a equilibrar as funções entre homens e mulheres
Em geral, ter um ambiente de trabalho diverso é muito importante e enriquecedor. Porém, o que se vê, na prática, no audiovisual está longe de ser diverso. Como vimos, os cargos de liderança na área são ocupados por homens em sua maioria. Mas, além disso, os homens, no geral, costumam chamar outros homens para compor as suas equipes. Ou seja, não há uma preocupação da parte deles em tornar as suas equipes diversas.
“Em todo lugar a gente quer lidar com pessoas que são nossos amigos e em quem nós confiamos. Mas quando você não dá espaço para pessoas talentosas, porque elas não fazem parte do seu grupo de amigos, isso se torna um problema muito grande. O que eu percebo é isso: que as pessoas só se relacionam naquele mesmo meio masculino e não fazem questão nenhuma de olhar para uma equipe e fazer uma reflexão sobre a sua diversidade”, pontua Érica.
Como exemplo, Érica conta que está, atualmente, em um projeto em que não há outras mulheres trabalhando nos bastidores, além dela. E esta cena virou padrão. Por conta disso, quando há oportunidade, ela se posiciona e traz à tona o assunto da diversidade dentro das equipes em que trabalha. Esta é uma forma de romper, aos poucos, este ciclo.
“Nós temos que falar sobre esse assunto. Se aquele ambiente é muito natural para você, você acaba não percebendo o quanto ele não é diverso. Se você é uma pessoa branca no meio de outras pessoas brancas, não é você que vai sentir falta de uma pessoa negra. Então, alguém tem que avisar e provocar o desconforto”, conclui Érica.
Abrir mão da feminilidade faz parte da realidade de algumas profissionais
Por ser um mercado em que os homens recebem destaque, as mulheres do audiovisual muitas vezes acabam mudando o seu comportamento dito “feminino” para um mais “masculino”, com o intuito de ganhar mais respeito dos seus colegas.
“A gente entra muito nesse pensamento de não querer mostrar fragilidade e provar que é tão capaz quanto um homem para estar no meio do audiovisual. Mas depois a gente se pergunta: eu tenho que me endurecer tanto? Eu tenho que deixar de ser quem eu sou para estar aqui?”, reflete Érica.
Érica ainda lembra de uma vez que estava em um set com um vestido e uma meia-calça verde, e um dos seus colegas comentou a respeito da roupa que ela estava usando. “Eu vou me vestir do jeito que eu quero. Se está confortável para mim, eu não vou abrir mão da minha feminilidade, eu não preciso disso. Acho que respeito a gente conquista de muitas outras formas e não se embrutecendo”, conclui Érica.
Negar a sua feminilidade pode ser uma forma de sobrevivência que as mulheres encontraram para atuar no meio audiovisual. Afinal, é uma forma de esconder a sua “fragilidade” e impor respeito. Porém, este processo de negar o seu jeito de ser pode ser um processo brutal de autossabotagem.
Ações para conhecer e incluir mulheres no audiovisual
Diante deste cenário, há algumas ações que ajudam nessa luta pelo equilíbrio de oportunidades entre mulheres e homens. Entre eles: grupos de mulheres que trabalham no audiovisual, editais afirmativos e conhecer o trabalho de outras mulheres.
- Grupos de mulheres que trabalham no audiovisual
No Facebook, há comunidades formadas por mulheres que atuam no audiovisual. Nelas, é possível fazer contato com outras profissionais, conhecer o trabalho de outras pessoas, desenvolver trabalhos coletivos, além de ser um canal para oferecer e buscar oportunidades na área.
Alguns grupos que podem ser encontrados na rede social são:
- Mulheres do Audiovisual RJ
- Mulheres no Audiovisual no Rio Grande do Sul
- Mulheres no Audiovisual PE
- Mulheres Negras e Indígenas no Audiovisual
“Esta é uma iniciativa incrível. É uma das formas de mudar essa mentalidade. Se você é uma líder de equipe ou uma produtora executiva tentando formar uma equipe e entra num grupo desses para buscar profissionais para equilibrar, querendo trazer mais mulheres para os projetos, eu acho maravilhoso e tem que acontecer”, diz Érica.
- Editais afirmativos
Editais afirmativos são ações de políticas públicas ou privadas que têm o objetivo de neutralizar os efeitos da discriminação de gênero ou racial, por exemplo. Esta é uma das formas de estimular, valorizar e igualar a participação das mulheres – e de outras minorias – no audiovisual.
A Spcine investe em projetos audiovisuais através de editais No edital para produção de longas-metragens de baixo-orçamento, por exemplo, é possível ver que há a presença de políticas afirmativas, em que 50% das vagas foram reservadas para mulheres, pessoas indígenas, pessoas com deficiência, trans e negras.
“Eu fico muito feliz quando vejo, por exemplo, cursos sendo oferecidos com bolsas específicas para mulheres ou festivais que privilegiam mulheres. A gente tem que realmente olhar para qualquer tipo de minoria com muita atenção, porque essas ações não são um favor. É só um equilíbrio da balança”, conta Érica.
- Conhecer o trabalho de outras mulheres
Uma forma de valorizar o trabalho das mulheres no audiovisual é conhecer os projetos que elas fizeram ou estão envolvidas. Para isso, há instrumentos que facilitam esse conhecimento, como é o caso do Clube das Diretoras.
Criado pela jornalista Joyce Pais, o clube é uma comunidade que propõe uma imersão no trabalho das diretoras do Brasil e do mundo. Foi o Clube das Diretoras que desenvolveu o livro 135 filmes de diretoras negras que é uma das ferramentas em que se tem acesso a nomes, obras e histórias de diretoras negras.
Conselho para as mulheres que estão começando na área: cerque-se de outras mulheres
Apesar do cenário desfavorável, as mulheres que desejam entrar ou estão no início da carreira no audiovisual não devem desanimar. Ter contato com outras profissionais da área e procurar ocupar espaços são formas de fortalecer o movimento das mulheres neste mercado.
“Quem está começando precisa olhar para outras mulheres que também estão querendo fazer algo interessante, bonito e impactante”, comenta Érica. Para as mulheres que já têm experiência, é importante chamar as pessoas que estão iniciando e falar “vem junto comigo, vamos fazer isso aqui”.
Todo mundo começa no audiovisual querendo fazer um projeto para ganhar experiência. Montar uma equipe composta por mulheres é uma forma de dar oportunidade e visibilidade para as profissionais da área.
“Primeiro de tudo, olha para o que você gosta de fazer. Se for direção de fotografia, por que não chamar uma mulher para dirigir o filme junto com você? Chama uma mulher para editar o seu projeto. Dê espaço para outra mulher brilhar”, aconselha Érica.
Uma lista de mulheres do audiovisual para você acompanhar
Para sermos uma voz ativa nesta luta pela igualdade de oportunidades no audiovisual, é preciso conhecer as mulheres que já estão nessa área. Esta é uma das formas de fortalecer e reconhecer o trabalho desenvolvido por elas.
Para isso, Érica listou o nome de 11 mulheres do audiovisual, do Brasil e do exterior, que vale a pena acompanhar:
- Laís Bodanzky
- Carla Camurati
- Eliza Capai
- Beth Formaggini
- Susanna Lira
- Petra Costa
- Sandra Kogut
- Anna Muylaert
- Chloé Zhao
- Jane Campion
- Shonda Rhimes
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Documentário
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