Danilo Dabague: o profissional multifacetado que dá vida a Lorelay Fox (parte 2)
Confira a segunda parte da nossa entrevista com Danilo sobre a sua trajetória profissional.
Ontem, publicamos a primeira parte da entrevista com Danilo Dabague – criador da drag queen Lorelay Fox. Nela, ele nos contou sobre a sua época escolar, a respeito da escolha do curso de graduação, como foi o caminho dele no mercado publicitário e nos explicou como a arte drag queen e o YouTube surgiram em sua vida.
Aqui, na segunda parte da entrevista, ele fala sobre a saída do mercado publicitário para trabalhar de vez como YouTuber, se o background publicitário o ajuda em seu atual trabalho e faz reflexões sobre a carreira e o futuro profissional.
Confira a segunda parte do nosso bate-papo!
De publicitário para YouTuber
Você imaginava que o seu canal no YouTube iria dar certo desde o início?
“Eu já esperava que o canal desse certo. E lembro que eu criei todo um projeto publicitário porque o canal ia ser o meu grande job. Eu fiz um planejamento, criei layout… me empolguei porque era um projeto meu! Mas tudo saiu dos trilhos porque cresceu muito e muito mais rápido do que eu imaginava.
Mas, desde o início, eu achava que daria certo. Só que não imaginava que eu iria ser um YouTuber de sucesso porque existiam poucos YouTubers de sucesso. Dos que eram, não tinha nenhum LGBTQIAP+. E é isso que a gente fala sobre representatividade. Você não se sente representado em lugar nenhum porque não existe alguém igual a você. Então, você jamais vai sonhar que vai poder dar certo. É muito louco pensar que, hoje em dia, eu posso inspirar pessoas a viverem coisas que eu não podia nem sonhar na minha época.”
Quando você percebeu que era hora de sair da agência para trabalhar como YouTuber?
“Eu gostava muito da agência em que eu trabalhava. Eu era muito feliz com a minha chefe. Adorava criar os anúncios para jornal, outdoor, eu amava! Adoro fazer materiais impressos!
Só que o meu canal começou a crescer – e a minha chefe acompanhou esse processo – e chegou um momento em que eu já não estava dando conta de todas as demandas. Mesmo assim, eu tentava me virar. Mas chegou um dia em que a minha chefe me demitiu. Ela falou ‘Danilo, não está mais dando. Você não consegue trabalhar na agência. Isto está impedindo você de seguir o seu rumo. Então, vamos terminar por aqui’. E eu chorei horrores na época!
Eu tinha três anos de canal quando isso aconteceu. Então, eu passei muito tempo na agência e no canal ao mesmo tempo. Foi algo que eu tentei levar o máximo que pude – e eu também tinha medo da instabilidade que existe nessa vida de influenciador. Mas precisou alguém parar, porque eu não ia largar o osso.
E o que é engraçado é que depois que a minha chefe me demitiu, a minha carreira alavancou. Então, estar na agência era uma coisa que me segurava e eu não tinha noção. Achava que estava mais seguro daquele jeito. Só quando eu realmente me arrisquei foi que as coisas começaram a dar muito mais certo.”
Você fez algum planejamento de carreira?
“Não fiz! Algum influenciador já disse que fez? Numa carreira normal a gente já não faz planejamento, imagina quando você trabalha como influencer que é algo que tem “vida própria” e depende de como a sociedade está consumindo conteúdo?
Não tem como planejar. Isso fica cada vez mais evidente, principalmente depois da pandemia que desconfigurou a nossa existência. Antes, eu trabalhava muito mais dando palestras presenciais em empresas. Depois, mudou completamente. A minha renda do YouTube subiu porque comecei a fazer live, já que as pessoas começaram a consumir esse tipo de conteúdo, e eu criei um podcast também.
É uma coisa que vai acontecendo. Eu não consigo ter esse planejamento. Eu só tenho uma coisa, que consegui na terapia: a calma para saber que tudo vai dar certo. Tudo deu certo até agora, por mais que eu tivesse medo de dar errado. Então, fecho os olhos e vou. Eu tenho um planejamento financeiro, mas de carreira, não!”
Por conta do seu background publicitário, você acha que entrou no universo dos influenciadores um pouco mais preparado?
“Para lidar com hate e esse grande surto da internet, não. Ninguém está preparado para isso. E é uma coisa que só quem viveu sabe a sensação aterrorizante que é. A questão é: quanto mais você cresce, mais recorrente isso é. E quanto mais recorrente, mais casca grossa você fica.
A respeito de toda a minha carreira como publicitário e até como drag – pela visão que a sociedade tem das drags – eu acredito que eu cheguei no mercado muito mais preparado para o lado profissional, em relação à entrega, de trabalhar com cliente… porque eu sempre fui nerd, então várias coisas me prepararam como profissional.
Mas, para o lado emocional, zero preparo. E até hoje eu tenho aquele medo constante de que uma bomba pode estourar a qualquer momento. Por isso existe essa grande crise de ansiedade nos influenciadores. E quanto mais você fizer sucesso, que é o que você busca, mais bombas vão plantar no seu caminho. Daí você tem que escolher: você quer ficar menor e não morar nesse campo minado ou você quer crescer, só que com bombas explodindo mês sim e mês não? É uma escolha difícil e que ninguém está preparado para lidar.”
Reflexões sobre a carreira e o futuro profissional
Você sente que se reinventou ao longo da sua carreira?
“Eu não sinto que eu me reinventei. Eu acho que encontrei um lugar onde eu consigo ser quem eu realmente sou. Eu me mantenho fiel à minha essência.
É um grande privilégio que eu tenho de trabalhar em atividades em que eu consiga fazer aquilo que eu realmente gosto – entre altos e baixos, claro. Acho que eu tive sorte de ir entrando num caminho onde eu pude exercer todas as minhas potencialidades. Eu não considero que existiu um Danilo antes e outro depois. Eu acho que fui me transformando em cima de quem eu realmente sou. Eu não enxergo que mudei de carreira. Eu vejo como se fosse um megazord crescendo.
Até hoje eu faço os layouts do meu canal, ainda faço umas tarefas de design porque eu morro de saudade de trabalhar com isso. Inclusive, uma das minhas metas para esse ano é trabalhar mais com design, fazer essas coisas que eu sinto falta. Então estou vivendo e tentando manter todas as minhas paixões acesas.”
O que te deixa feliz e realizado profissionalmente hoje em dia?
“Existe uma entrega pessoal muito grande revertida através do carinho do público. É uma troca sincera. São pessoas que acompanham a sua vida enquanto você cresce como pessoa. Fora o lado financeiro, porque a gente ganha muito mais dinheiro do que a maioria das pessoas – e a gente tem que ter essa consciência mesmo -, mas a conexão real com as pessoas que se identificam com você é incrível.
E, como YouTuber, é maravilhoso você ter liberdade total de criação. Se eu quiser parar hoje e fazer um vídeo cozinhando um macarrão, eu posso fazer isso. Amanhã eu posso falar sobre o terremoto na Turquia e, depois, fazer uma make drag. Eu posso realmente explorar tudo. Claro que tem nichos que eu quero entrar, que eu gosto mais e que estão dando mais certo. Mas, por exemplo, o meu canal era muito sobre militância e, hoje em dia, eu falo sobre alienígenas, sabe?
Então estou sempre me lembrando do quanto é maravilhoso eu poder estar num lugar onde a gente realmente só precisa se comunicar. É libertador, muito inspirador criativamente. Eu acho que é a melhor profissão do mundo!”
O que você planeja para o seu futuro profissional?
“Eu planejo diminuir a quantidade de conteúdo que eu crio. Às vezes eu penso sobre o que é preciso para continuar fazendo tudo o que eu gosto, mas sem depender de que os resultados sejam do tamanho dos que eu tenho hoje. Não vou querer ser drag queen e YouTuber pela vida inteira – embora se eu passar uma ou duas semanas sem me montar, já fico com saudade.
E eu sempre penso assim ‘e se tudo der errado agora? Se eu for cancelado? Vou fazer o quê?’ ou então ‘e se eu largar a profissão de influenciador daqui a cinco anos e abrir a minha agência?’. Tem muitas coisas com as quais eu gostaria de trabalhar e que eu posso fazer porque são legais. Eu sempre penso nisso e acho que fome eu não vou passar, então, tudo bem.
Estou muito aberto ao futuro, mas acho que pretendo investir muito no meu canal por uns cinco anos. Mais do que isso, eu não tenho planejamento. E um dos planos é sair da cidade de São Paulo e voltar para o interior. Isso vai exigir que eu mude essa carreira de influenciador como ela é hoje.”
Quanto mais possibilidades você conseguir experimentar, melhores são as chances de mudar de caminho. Você acha que a gente pode resumir a sua carreira dessa forma?
“Eu não tenho dúvidas! Para mim é isso. E acho que o que realmente fez com que eu alavancasse a minha carreira – e é uma coisa cafona e poética – foi ter um surto e fazer algo que eu sonhava. Criar o meu canal poderia ter sido uma grande vergonha, mas deu certo.
Então eu acho que você tem que aproveitar as oportunidades. Eu via a chance de ser YouTuber – e poderia ter sido muito antes – mas eu tive medo. Era algo que eu achava que ia dar certo, mas demorei uns três anos para colocar em prática. Então é muito de você saber olhar para as oportunidades, para o que você acredita, tem potencial de conquistar e realmente coloca em prática, sem esperar o ‘momento certo’.
Eu realmente me joguei no YouTube. Meu cenário era horrível, eu não sabia usar o equipamento… eu só queria fazer e foi aí que tudo aconteceu. Então eu acho que é muito disso. De começar a colocar esses planos de mudança de carreira, de vida, de relacionamento, de qualquer coisa em prática, sem esperar que exista um plano ideal para aquilo.
Comece a fazer do jeito que você está agora porque não vai ter o momento ideal. Isso vale para outras coisas também. Depois do meu canal, eu criei um podcast e também foi assim. Os projetos especiais também foram assim. Então a gente sempre pensa que vai existir o momento ideal, que as coisas vão se encaixar… e não é assim! Você vai entrando, sabe. Eu acho que essa é uma boa dica para quem quer mudar de carreira. A gente tem medo, mas tem que ir lá e fazer!”
Confira como foi a live da EBAC com a Lorelay Fox que contou tudo sobre o universo de TI! Clique aqui ou assista ao vídeo abaixo:
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