Um novo momento para os influencers: a saúde mental como prioridade

Última atualização
01 jun 2023
Tempo de leitura
14 min

Desafios da profissão fazem com que os influenciadores digitais se afastem das redes sociais para cuidar da saúde mental.

A profissão de influenciador digital é recente e já se tornou o emprego dos sonhos de muitas pessoas. Afinal, a carreira chama atenção. Mostrar o dia a dia, criar tendências e motivar a decisão de compra estão entre as suas responsabilidades.

A INFLR, adtech especializada em marketing de influência, entrevistou 3100 jovens brasileiros e a pesquisa revelou que 75% deles têm vontade de ser influenciador para inspirar pessoas. Entre os entrevistados, 63% disseram que o retorno financeiro no ambiente digital é a maior motivação para trabalhar na área.

Apesar do lado glamoroso que é mostrado para o público, os influenciadores também enfrentam desafios da profissão que podem comprometer um ponto muito importante: a saúde mental. Por conta disso, muitos já se afastaram ou deram um tempo das redes sociais para se cuidar.

Mostrar o tempo todo o que está fazendo pode afetar a privacidade

Parte da profissão de um influenciador digital envolve expor a sua vida do momento que acorda até o horário de dormir. Muitas vezes não há limites estabelecidos e nem horário para largar. Porém, essa exposição exacerbada pode não ser saudável. Ficar com a câmera do celular filmando tudo o que é feito, para onde se vai e o que se faz pode afetar a privacidade da pessoa.

Ao tornar a sua vida um livro aberto na internet, o público pode ficar com a impressão de que os criadores de conteúdo têm obrigação de revelar detalhes da sua vida pessoal e cobram por isso. Porém, mesmo que sejam consideradas pessoas públicas, os influenciadores digitais não precisam falar sobre tudo.

As cobranças, no entanto, podem afetá-los: eles podem se sentir na obrigação de atender aos pedidos dos seguidores para agradá-los e compartilhar ainda mais a sua vida, o que pode levá-los a entrar numa rotina de mais exposição e exaustão. Caso não atendam, terão que lidar com a insatisfação dos seus seguidores.

A obsessão em permanecer relevante e criar conteúdos criativos

Com cada vez mais influenciadores digitais nas redes sociais, é preciso se destacar. Para isso, os influenciadores recebem uma cobrança constante: criar conteúdos criativos.

Uma pesquisa feita pelo Criadores ID, que entrevistou 450 influenciadores do YouTube entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020, revelou que 81% dos criadores se sentem pressionados a produzir novos conteúdos para manter a audiência.

Tirar boas fotos e fazer vídeos que empolgam o público são tarefas que se esperam desses profissionais. Caso o conteúdo entregue não atinja as expectativas, ele pode receber críticas da sua audiência e até de pessoas que não são seguidores nas redes sociais.

Além disso, as próprias plataformas como o YouTube e o Instagram estimulam que os criadores de conteúdo façam publicações com periodicidade para que se tornem relevantes.

Diante desse cenário, os criadores de conteúdo podem entrar num ciclo de autocobrança com o seu trabalho que pode levá-los à exaustão mental.

A busca por um bom engajamento que pode ser infinita

O engajamento é uma forma de medir o nível de interação entre os seguidores e o conteúdo de um perfil. Curtidas, comentários e reações aos stories são exemplos de formas de engajamento.

O engajamento é uma das métricas mais importantes e que as marcas valorizam para fechar parceria com um influenciador. Isso porque ter um bom engajamento pode significar que o público do influenciador é fiel e dá importância ao que ele produz e indica.

Ao lado, temos o print de um story da influenciadora Amanda Farah. Ela se diz cansada por produzir conteúdo para o Instagram que não é entregue para os seus seguidores nem tem um bom engajamento. Na imagem, ela mostra a diferença da performance de um mesmo conteúdo publicado no Instagram e no TikTok.

No Instagram, onde tem 85 mil seguidores, o vídeo foi reproduzido quase 6 mil vezes, recebeu 547 curtidas, obteve 38 comentários, foi enviado 35 vezes para outras pessoas e foi salvo por 31 perfis. Já no TikTok, onde tem 19 mil seguidores, o mesmo vídeo foi reproduzido mais de 100 mil vezes, curtido mais de 22 mil vezes, recebeu 176 comentários, foi enviado para 94 pessoas e salvo por quase 4 mil perfis.

Print do story da influenciadora Amanda Farah que faz um desabafo sobre a frustração de produzir conteúdo para o Instagram. Reprodução: Instagram @euamandafarah

Os influenciadores estão em constante busca por engajamento. Porém, esta pode ser uma métrica inconstante. Ou seja, hoje ela pode estar alta, mas amanhã ela pode estar baixa. E a busca por um bom engajamento pode se tornar infinita, o que também pode levar à exaustão e frustração, principalmente quando as expectativas não são alcançadas.

A necessidade de se adaptar aos algoritmos que mudam constantemente

Pode-se dizer que os algoritmos das redes sociais são como robôs que identificam quais publicações vão ser entregues para mais ou menos pessoas. É o algoritmo que organiza as publicações que aparecem no feed, a partir do grau de relevância de um conteúdo.

Esse algoritmo muda constantemente. O Instagram, por exemplo, que originalmente era uma rede social de fotos, hoje já não é mais. De acordo com o head do Instagram, Adam Mosseri, a rede não é mais um aplicativo para o compartilhamento de fotos. O vídeo é o formato que, hoje, é mais valorizado pelo algoritmo.

Ou seja, os influenciadores que anteriormente investiam em produções de fotos, hoje se dedicam a criação de vídeos, já que é o que o algoritmo da plataforma diz considerar relevante. Porém, até mesmo quem investe em vídeos no Instagram, diz que o seu conteúdo não é entregue para todos os seus seguidores, o que faz com que o seu engajamento fique baixo.

Os influenciadores acabam se tornando reféns dos algoritmos. Parece um ciclo sem fim: se é o algoritmo que determina o que é um conteúdo relevante, os influenciadores precisam se preocupar em descobrir o que o algoritmo valoriza. Logo, o modo que os influenciadores criam o conteúdo não fica tão livre, já que eles precisam acompanhar e se encaixar nessas mudanças para manter um bom engajamento nas plataformas.

Lidar com a cobrança de seguidores e ataque de haters

Ao se dedicar a criar conteúdo na internet, o influenciador digital pode lidar com bastante cobrança de seus seguidores e também receber ataques de haters.

Como uma de suas atividades é produzir stories, fotos e vídeos, o público pode adotar um posicionamento de sempre cobrar por mais conteúdos dos influenciadores. Essa atitude, apesar de parecer inofensiva, pode causar um sentimento no profissional de que ele deve estar sempre produzindo e planejando algo para a sua audiência. A incessante cobrança por parte dos seguidores pode, dessa forma, ultrapassar o limite do que é saudável.

Além disso, por causa da exposição da imagem que envolve o trabalho do influenciador, os seguidores podem acreditar que tem liberdade para falar livremente sobre seus corpos, o que comem, o que vestem ou como se comportam. E, muitas vezes, essas opiniões não foram solicitadas.

Por outro lado, caso um influenciador tenha uma atitude ou opinião que não agrade a todos – por exemplo, um posicionamento político diferente – ele pode receber em suas redes sociais comentários de haters (“os que odeiam” ou “odiadores”, em português).

Os haters são pessoas que vão até uma página ou perfil apenas para criticar, xingar e ofender. Algumas vezes, eles usam de perfis anônimos para deixar mensagens de ódio.

Sejam comentários com cobranças ou de haters, esse tipo de mensagens pode afetar de um jeito negativo o influenciador.

Print do story da influenciadora Lorena Rufis, em que ela faz um desabafo sobre as consequências da exposição de imagem e alerta que é preciso cuidar da saúde mental.Reprodução: Instagram @rufislore

Acima, print do story da influenciadora Lorena Rufis. Nele, ela faz um desabafo contando que é grata pelo trabalho, mas que esquece de cuidar da saúde mental e que sofre as consequências por conta disso. “Não é tão simples assim estar aberta”, fala Lorena. De acordo com ela, se você não estiver forte e com a cabeça no lugar, é impossível não sucumbir com as mensagens e as cobranças de milhares de pessoas que ela não conhece. Por isso, ela deixa o alerta de que cuidar da saúde mental é importante.

Criadores de conteúdo que já deram um tempo das redes sociais

Por causa dessa parte da profissão, muitos influenciadores já se afastaram das redes sociais por um período. Entre eles: Luva de Pedreiro, Esse Menino, Kéfera Buchmann e Thaynara OG.

  • Luva de Pedreiro
Iran Ferreira

Iran Ferreira, mais conhecido como Luva de Pedreiro, ficou conhecido nas redes sociais por causa dos seus vídeos que eram gravados em um campo de várzea, em que ele sempre falava “receba”, que tornou o seu bordão.

 

Com mais de 15 milhões de seguidores no Instagram e mais de 17 milhões no TikTok, Luva de Pedreiro anunciou, em junho, que iria pausar a produção de vídeos.

“Vou ficar uns tempos aí… Tá ligado? Sem postar vídeo. Eu vou esfriar a cabeça, pô! Ficam enchendo o saco do cara”, desabafou Luva, durante uma live.

Iran Ferreira, mais conhecido como Luva de Pedreiro. Reprodução: Instagram @luvadepedreiro

  • Esse Menino

Rafael Chalub, mais conhecido como Esse Menino, é um humorista que ficou conhecido por causa do seu vídeo sobre a Pfizer que viralizou. Em 2021, ele consolidou o seu nome como um dos principais comediantes da internet e fechou parcerias com muitas marcas.

Apesar do sucesso, em dezembro de 2021, ele anunciou que iria sair de férias e ficaria um tempo sem entrar nas redes sociais e sem publicar nada. No vídeo do pronunciamento, Esse Menino revelou que, desde que se tornou conhecido, ele não parou de trabalhar e que estava se sentindo exausto.

Rafael Chalub

Rafael Chalub, mais conhecido como Esse Menino. Reprodução: Instagram @essemenino

“As pessoas falaram muito comigo sobre o tanto que eu tirei de letra, sobre como que parece que foi fácil para mim esses últimos seis meses. E não foi. A internet é malandra, faz parecer que foi tudo massa, muito fácil. Sofro com imensa ansiedade, tenho depressão diagnosticada há um tempo e também déficit de atenção. Em muitos casos, inclusive no meu, levam a várias questões de autocobrança e autoestima”, declarou o humorista.

Esse Menino voltou a publicar conteúdo em suas redes sociais em fevereiro de 2022.

  • Kéfera Buchmann

Em seu vídeo do YouTube em que explica o porquê de ter se afastado da plataforma onde alcançou o sucesso com o canal 5incominutos, Kéfera conta que parou de ter vontade de publicar vídeos.

Ela explicou que, ao longo dos 10 anos em que esteve presente no YouTube, ela viu, leu e ouviu muitas opiniões a respeito dela de pessoas que não a conheciam, e muitas dessas opiniões eram pesadas. Além disso, ela alega que parecia que as suas mudanças – que são normais de acontecer ao longo de 10 anos – nunca agradavam o público.

Kéfera Buchmann

Kéfera Buchmann. Reprodução: Instagram @kefera

 

“Eu tentava agradar as pessoas e quanto mais eu tentava, mais parecia que desagradava. (…) E eu ficava ‘meu Deus, eu não estou mais entendendo o que está acontecendo nesse lugar’ e o meu saco encheu. E é muito estranho porque, quando você se torna alguém conhecido e relevante, as pessoas acham que você é feito de cimento e que elas podem chutar e está tudo bem. Só que é um ser humano que tem aqui. Então, eu já li e ouvi muita coisa pesada sobre mim que me fez considerar minha trajetória na internet, do tipo ‘será que eu precisava estar passando por isso? Será que eu precisava estar ouvindo tudo isso? Não quero, está muito ruim!’”, conta Kéfera.

Depois desse vídeo, Kéfera só publicou mais dois vídeos em seu canal no YouTube, mas continua presente em outras redes sociais como Instagram, TikTok e Twitter.

  • Thaynara OG

Com mais de 5 milhões de seguidores no Instagram, Thaynara não chegou a se afastar da rede social, mas desativou, em outubro de 2021, o recurso que permitia que os seus seguidores respondessem a seus stories, depois de ter uma crise de ansiedade.

Thaynara explicou que o direct é o lugar que mais interage com os seus seguidores. É por lá que ela vê as mensagens que são enviadas e, algumas vezes, as pessoas contam que sonharam com ela e que acontecia alguma tragédia.

Thaynara OG

Thaynara OG. Reprodução: Instagram @thaynaraog

 

“Nesses últimos dias, eu recebi um tão específico que realmente me fez mal, aí para viajar eu fiquei muito impressionada. Rezei com minha mãe, minha vó e tal achei que eu estava tranquila, só que eu tive uma crise de ansiedade dentro do avião. Acho que fiquei tão impressionada achando que podia acontecer alguma coisa que eu comecei a sentir que eu não estava respirando, fiquei cogitando se gritava a aeromoça para pousar o avião e sair correndo”, conta Thaynara.

Ela ainda disse que, às vezes, as pessoas mandam esse tipo de mensagem por carinho, com o intuito de avisar, mas tem gente que manda na maldade, e que dessa vez a mensagem havia mexido com a cabeça dela e, por isso, daria um tempo de ficar olhando o que os seguidores enviavam. Hoje, Thayana já reativou esse recurso.

É preciso que os influenciadores cuidem da saúde mental

A pressão com que os influenciadores digitais lidam no dia a dia pode fazer com que eles desenvolvam ansiedade, estresse e depressão. Ainda de acordo com a pesquisa feita pelo Criadores ID:

  • 22,2% dos influenciadores sofrem de transtorno de ansiedade
  • 6,4% sofrem de depressão
  • 2,5% sofrem de TDAH

Ao chegar nesses diagnósticos ou em períodos em que a saúde mental está mais esgotada, muitos optam por dar um tempo das redes sociais, dar uma pausa nos trabalhos e se cuidar. É preciso estar atento à saúde, ter acompanhamento psicológico e planejar uma rotina profissional organizada e com menos pressão. Assim, a criação de conteúdo se torna uma atividade mais saudável.

Foi pensando nesse cenário que os criadores de conteúdo Spartakus e Ellora Haonne se juntaram ao coletivo Papel & Caneta para criar o Como Crescer que, de acordo com o site, é um guia – não definitivo – para que criadores de conteúdo lembrem de cuidar de si enquanto estiverem tentando crescer na Internet.

Ao todo, 10 influenciadores fizeram vídeos com temas como:

  • Organização: como planejar a criação de conteúdo?
  • Por que os criadores estão esgotados?
  • Como não trabalhar demais?
  • Como lidar com o público?
  • Como lidar com os haters?
  • Como separar a vida pessoal da vida pública?

Abaixo, confira o trailer do projeto:

como crescer - um guia de sobrevivência pra quem cria conteúdo na internet

Portanto, é preciso estar atento para que, ao entrar no universo da influência digital e se tornar um criador de conteúdo, a saúde mental também seja prioridade. Assim, o trabalho do profissional pode ser desenvolvido de uma forma realmente saudável.

Página inicial / Marketing
Bruna Montenegro

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