TransEmpregos: o maior e mais antigo projeto de empregabilidade de pessoas trans do Brasil
Confira o nosso bate-papo com Maite Schneider, cofundadora da TransEmpregos, que nos contou como foi o surgimento do projeto e qual o seu principal objetivo.
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A TransEmpregos surgiu em 2013 com uma missão: combater a discriminação e o preconceito que dificulta o acesso de pessoas trans ao mercado de trabalho. Apesar dos desafios encontrados, ao longo desses 10 anos, a TransEmpregos foi crescendo e atingindo números significativos. Até hoje, foram mais de 10 mil pessoas trans empregadas através do projeto.
Completamente gratuita, além do suporte prestado às pessoas trans, a TransEmpregos também trabalha em parceria com empresas para que elas sejam ambientes verdadeiramente inclusivos. Para saber mais sobre a história do projeto, conversamos com a cofundadora da TransEmpregos, Maite Schneider. Confira a entrevista!
Como surgiu a TransEmpregos?
“Eu ajudei a organizar um evento que envolvia militância para dois grupos lá de Curitiba (PR) – Grupo Liberdade e Grupo Esperança. Eles me chamaram porque eu conhecia muita gente que estava na mídia. (Para o evento) eu convidei a cartunista Laerte Coutinho – quem, bem nessa época, tinham descoberto que era crossdresser -, a advogada Márcia Rocha, a psicanalista Letícia Lanz e a humorista Nany People para fazer a abertura do evento.
As quatro aceitaram, foram para Curitiba e o evento foi um sucesso. Desse encontro, a gente (Maite, Laerte, Márcia e Letícia) fez nascer a Associação Brasileira de Transgêneros (ABRAT) para discutir a questão da educação (das pessoas trans) que a gente via que tinha um deficit muito grande. Só que, com o passar do tempo, percebemos que não adiantava falar só de educação, se não se falasse de empregabilidade. As pessoas acabavam se formando e não tendo como fazer a inserção de todo o conhecimento de soft e hard skills que carregavam.
E aí, Márcia Rocha, sempre visionária, falou que a gente deveria fazer um braço na ABRAT do que seria a TransEmpregos. A gente não colocou muita fé, mas bem na época nasceu o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, em São Paulo, em 2013. No começo eram poucas empresas parceiras do Fórum, mas a Márcia falou ‘vou lá me associar!’. E ela foi lá de maneira desbravadora. Ela foi a mãe da TransEmpregos. Esse foi o começo. As empresas ficavam assustadas porque não tinham orientação, era difícil imaginar a questão de identidades divergentes das pessoas cisgêneras, mas a Márcia começou a ir a todos os lugares para falar.”
A TransEmpregos já mudou a vida de muitas pessoas e de empresas?
“Hoje a gente está completando quase 2400 empresas parceiras. São quase 10 mil pessoas trans empregadas, só no ano passado foram mais de 1000 pessoas trans contratadas, e a gente vem ampliando parcerias educacionais, como essa com a EBAC.
A gente também foi aprendendo durante esses 10 anos com essas parcerias, através de erros e acertos, a construir esse caminho de maneira sólida. Esse é um projeto que leva quase 50% do nosso tempo porque é um trabalho em que a gente acredita. Ele é totalmente gratuito, voluntário, tanto para as empresas quanto para as pessoas trans, e espera-se que um dia não ele não seja mais necessário.
A gente trabalha bastante para tentar falir esse projeto, não no sentido de ser derrotado, mas de que ele não seja mais necessário e que o mundo entenda que competência não tem nada a ver com identidade, orientação, credo… e que, ao mesmo tempo, essas especificidades fazem de cada ser humano uma potência única para além dos agregados que ele têm de conhecimento, habilidades e tudo mais.”
Como a TransEmpregos atua?
“Nós somos o maior e mais antigo banco de talentos de pessoas trans do Brasil. Temos quase 25 mil talentos, 40% dos quais têm graduação, mestrado e doutorado, então são pessoas super competentes e qualificadas que não conseguem emprego justamente porque são trans. Então esse é um dos laços: unir talentos com empresas que querem realmente os melhores profissionais perto. Os usuários também podem se inscrever em cursos de formação e atividades, como o TransFormação.
Hoje em dia a TransEmpregos conta com mais de 100 colaboradores. A gente tem um trabalho que se chama Somos Inclusão que ajuda a pessoa a fazer ou melhorar o currículo, para que seja condizente com o que o mercado busca. Para quem não tem LinkedIn, o time ajuda a fazer, e quem já tem, o perfil é aprimorado, porque o LinkedIn é uma ferramenta necessária hoje em dia. E tudo isso é feito pela equipe de maneira muito humanizada. Não é só fazer o preenchimento de dados, eles entendem a história da pessoa.”
E como funciona o trabalho da TransEmpregos com as empresas?
“A TransEmpregos também atua na capacitação de empresas, que acontece de maneira presencial. Por ano, a gente deve fazer quase 500 capacitações em empresas para que sejam lugares que entendam um pouco mais sobre pessoas trans, sobre certas demandas, sobre como elas podem rever os processos delas para que sejam verdadeiramente inclusivas.
A gente ajuda essas empresas a terem espaços com mais segurança psicológica, que elas realmente façam um caminho que seja muito bom para atingir o que a gente deseja, com mais diversidade, mais inclusão e que sejam empresas mais humanizadas, com produtos ou serviços que atinjam as pessoas de maneira que todas se sintam parte desse processo.
Inclusive, a gente criou uma cartilha muito legal chamada Agora Vai, um projeto promovido dentro do Google for Startups, pela TransEmpregos e mais 14 organizações que aconteceu antes da pandemia. O conteúdo foi compilado em duas cartilhas e oferece dicas e informações para empresas e pessoas trans para que elas não dependam da gente, se aprofundem na temática e estejam prontas para o mercado de trabalho inclusivo.”
E o projeto também tem outra forma de atuar nas empresas, não é?
“A gente também ajuda empresas que já têm diversidade, que já fazem a empregabilidade de pessoas trans e querem ir além. Porque empregabilidade é uma das formas de pensar em mais diversidade, em processos mais inclusivos, nos filtros de seleção e recrutamento, mas não é a única.
Existem várias outras formas dessas empresas crescerem, tanto na parte de responsabilidade social quanto na parte de educação, na de preparação, mudando uma série de gaps que a gente sabe que existem em relação a grupos subrepresentados. Aqui entram pessoas trans, mulheres, a população negra, pessoas com deficiência, enfim, uma série de outros grupos que não são quantitativamente menores, mas que acabam subrepresentados principalmente quando a gente fala de vagas para além das iniciais, de porta de entrada.
Então nesse terceiro pedaço que a TransEmpregos faz, a gente ajuda empresas que querem ir além. Já foi desenvolvido, por exemplo, o projeto da primeira escola de eletricistas trans para a EDP, assim como o primeiro programa de trainees exclusivo para pessoas trans no Brasil junto com a Casa&Video.”
Quais são os maiores desafios que a TransEmpregos enfrenta ou já enfrentou ao longo desses 10 anos?
“Eu acho que muita coisa mudou. O número de vagas para pessoas trans tem aumentado, assim como o número de empresas parceiras. Cada vez mais elas vêm nos procurar – antigamente a gente tinha que ir atrás delas. Então essa discussão está um pouco mais madura do que era antigamente.
No começo (do projeto), era muito difícil as pessoas trans acreditarem nas empresas que se aproximavam porque elas já tinham sido muito machucadas. Várias delas passaram por processos de entrevistas extremamente cruéis e RHs desumanos. E elas eram pessoas que tinham as habilidades e as competências exigidas para determinada vaga e, mesmo assim, não conseguiam emprego. Então era aquilo: quando (as empresas) sabiam que eram trans, falavam “olha, eu te ligo” e era um telefone que jamais tocava, não havia devolutiva.
(O processo seletivo) era muito cruel nesse sentido, e ainda é um pouco assim, infelizmente. Às vezes, a empresa tem uma equipe de duas ou três pessoas para fazer um processo seletivo com mais de mil candidatos. É um processo desumano.
Então acho que o primeiro passo da TransEmpregos foi para que as pessoas trans acreditassem que há empresas melhores e que estão tentando ver o que pode ser feito. Hoje é mais fácil porque há um resultado positivo, a gente vê a empregabilidade acontecendo, mas foi e é um processo difícil.”
As capacitações promovidas pela TransEmpregos ajudam as pessoas em quais sentidos?
“As capacitações são muito importantes para que as pessoas trans acreditem em si mesmas. Ainda é muito grande o número de pessoas que falam ‘eu não sei nada, eu sou muito ruim, para mim qualquer coisa serve’. E aí eu tenho que falar: ‘não, não é verdade isso, porque você vive numa sociedade transfóbica, que não dá oportunidade e se você continua viva aqui com a gente, é porque muita força você tem e você não está reconhecendo essas forças. Então não aceite qualquer coisa.’
Eu falo isso porque quando a gente aceita qualquer coisa na vida, a gente se transforma, em pouco tempo, em qualquer coisa. E a gente não nasceu para migalha. A gente nasceu para ser o que quiser, para transformar sonho em propósito. Então esse papel de dizer para essas pessoas que elas não são qualquer coisa é um trabalho difícil, porque durante muito tempo elas escutaram que eram qualquer coisa. Então, é difícil, mas eu acredito nessa mudança.”
Quais desafios a TransEmpregos encontra quando vai trabalhar com as empresas?
“Com as empresas, a dificuldade maior está com relação ao que já era antes. As empresas ainda têm muitos vieses construídos do que são as pessoas trans. Então há quem diga ‘eu queria abrir uma vaga, mas não tem trans com essa competência’ e aí eu falo ‘não, tem bastante trans com essa formação!’. Ficou muito na cultura delas que pessoas trans não têm competência nenhuma, que todas se prostituem e que vieram da marginalidade.
E eu falo que um grande número, sim, faz parte desses grupos, mas justamente porque a sociedade imputa para lá. Mas a gente começa a mostrar para as empresas que há pessoas trans com competências e são elas, as próprias empresas, que não estão procurando no lugar certo. Então um desafio é mudar essa consciência primeiro.
Um outro desafio para as empresas é o de entender por que ela está querendo fazer esse trabalho de inclusão. Muitas empresas ainda dizem ‘eu vi que a concorrente chamou a TransEmpregos e a gente não quer ficar para trás’, daí eu chego lá e eles nem sabem por que estão chamando. Então é importante elas entenderem esse porquê.”
No geral, no que as empresas precisam melhorar?
“As empresas precisam rever os processos que já existem. Elas são muito burocráticas, infelizmente. Independente do tamanho, do ramo, da atividade. Lógico que quanto menos colaboradores elas têm, se a mentalidade for um pouco mais moderna, como a de algumas startups, é um pouco mais fácil. Quanto maiores as empresas, mais burocracias vão ter, então é tudo mais complicado e lento.
Mas é importante as empresas reverem os seus processos porque pessoas trans continuam tendo os mesmos problemas de antes. A questão do nome social, por exemplo, é um deles porque a maioria das empresas não está preparada para isso, mesmo sendo uma lei, mesmo sendo obrigatório. Elas alegam que o sistema é antigo e eu falo ‘então tem que modernizar! Isso tem que estar na meta, tem que ser para ontem.’ Ainda há vários processos que precisam ser revistos, entre eles desde o de preparação de equipes até os benefícios que são oferecidos.
Além disso, tem a questão do banheiro. Eu ainda estou indo às empresas ensiná-las onde o amigo tem que fazer o número um e número dois, e que isso não pode ser um problema na vida das pessoas.”
Quais os planos para o futuro da TransEmpregos?
“A gente vai continuar nesse caminho, que é o da informação, da capacitação e de incentivar as pessoas. Eu falo que elas têm que estudar sempre, que é um processo contínuo e elas não podem parar. Além de acabar com a TransEmpregos, a meta é fazer as pessoas entenderem que todo mundo tem que ser o agente da mudança que deseja ver. Não dá para ser uma pessoa de poucas ações. Se a gente não tem essa sociedade e humanidade ideal é porque ou a gente está fazendo pouco ou, pior, não está fazendo nada, achando que não tem nada a ver com isso.
Então acho que essa conscientização é um trabalho que tem que ser feito, entendendo que a gente só vai ser no macro o mundo que a gente deseja se, no micro, enquanto indivíduos, realmente formos os agentes da mudança que queremos ver no mundo.
Temos que acelerar esse processo, acelerar políticas públicas afirmativas e, para isso, a gente também depende das empresas e do governo – ainda bem que agora há duas travestis lá dentro, a Erika Hilton e a Duda Salabert. A gente precisa mudar leis, tem que fazer realmente essa pressão porque, senão, vamos perder muita gente ainda no front e vai demorar muitos anos – eu vou viver até os 120 anos (risos) mas, mesmo assim, quero ver antes disso o fim da TransEmpregos.”
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