Web 3.0: a internet vai mudar?

Última atualização
02 out 2023
Tempo de leitura
9 min

A internet como conhecemos está passando por mudanças que podem revolucionar a forma como vivemos nesse mundo digital.

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O termo tem ganhado uma certa notoriedade nos últimos tempos, mas muitas pessoas ainda não compreendem o que de fato é essa tal de Web 3.0. Afinal, a internet vai mudar e vamos todos entrar na era da web 3.0? É sobre isso que vamos falar neste artigo.

Obviamente, antes de chegarmos a sua “versão” 3.0, passamos por duas versões anteriores: a Web 1.0 e a Web 2.0, e é necessário que você entenda o conceito delas antes de chegarmos à definição de Web 3.0.

WEB 1.0 – A web estática

Podemos dizer que a Web 1.0 aconteceu em um período entre 1991 e 2004, com o surgimento dos primeiros browsers (navegadores). Chamamos essa fase da internet de “web estática”, pois era assim que os sites apresentavam seus conteúdos, de forma estática e sem interatividade.

Nessa fase, não existiam funções de comentários, troca de mensagens ou botões de like. Aqui, o usuário era apenas um consumidor de conteúdo e informação. Os sites eram como grandes portais ou catálogos, onde poderíamos ver as informações ali disponíveis apenas para conhecimento próprio.

Em resumo, essa Web funcionava como uma via de mão única: um servidor que armazenava informações enviava esse conteúdo para os nossos navegadores. Nós, como usuários, podíamos apenas visualizar esses conteúdos. Ou seja, os usuários não enviavam nenhum tipo de informação de volta para o servidor.

Fonte: EBAC

Web 2.0 – A era dos anúncios

De 2004 até os dias atuais, vivemos na era da Web 2.0, que é uma grande evolução da sua versão anterior. Essa evolução se dá a partir da possibilidade de interação dos usuários.

Nessa fase, começaram a surgir aplicações que permitiam ao usuário inserir conteúdos na redepara que outros usuários pudessem acessá-los também. O exemplo mais claro que temos disso são as redes sociais, que passaram a colocar seus usuários não só como consumidores de conteúdo, mas também como produtores deles.

Aqui já podemos dizer que a web passa a funcionar como uma via de mão dupla: o servidor fornece informações ao usuário, o usuário também fornece informações ao servidor e o servidor distribui essas informações para outros usuários.

Fonte: EBAC

Porém, há dois pontos muito importantes nessa relação servidores e informações de usuários:

Servidores centralizados

Estes servidores são pertencentes a uma única empresa, como Meta (Facebook) ou Google. Por isso, são chamados de servidores centralizados.

Por exemplo, se você deseja acessar um perfil do Instagram, você faz uma requisição de acesso aos servidores da Meta, que tem os dados desse perfil armazenado. Esses servidores irão responder com o acesso a esse perfil. Ou seja, você como usuário faz requisições de acesso a servidores específicos para acessar os conteúdos que deseja.

Dados de navegação

Quando falamos que os usuários passam a interagir com a web e também fornecer informações aos servidores, não estamos falando apenas de conteúdos publicados voluntariamente, como vídeos no Youtube ou fotos no Instagram.

Também compartilhamos dados cadastrais, como os dados que fornecemos para criar contas nas redes sociais, e dados de navegação. Ou seja, informações sobre os sites que acessamos e o tipo de conteúdo e produtos que consumimos.

Portanto, com servidores centralizados pertencentes a uma empresa e nossos dados armazenados nesses servidores chegamos a um dos principais ativos que tornaram a web 2.0 rentável: os anúncios direcionados.

Uma grande rede de anúncios

Empresas como a Meta, Google e TikTok utilizam os dados de comportamento e histórico de navegação como um produto de venda para outras empresas, que se baseiam nessas informações para anunciar e vender seus produtos e serviços.

Esses dados podem ser utilizados tanto para anúncios dentro destas plataformas, como para pesquisas de mercado. Assim, as empresas que desejam vender seus produtos conhecem quem são e quais os hábitos dos seus clientes.

Não precisamos nos aprofundar muito no assunto para entender o quão perigoso esse sistema de armazenamento e uso de dados de pessoas físicas pode ser. É só resgatar o escândalo envolvendo o Facebook e a venda de dados para a Cambridge Analytica. E esse é só um dos exemplos de uso ou exposição inapropriada de dados que temos por aí.

Atualmente temos diversas iniciativas que buscam regularizar a forma como os dados das pessoas são tratados, como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) aqui no Brasil, que foi baseada na GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados) na Europa. Há também os diversos investimentos em segurança de dados que as empresas estão fazendo.

Porém, todas essas ações não mudam o fato de que as informações das pessoas estão armazenadas em servidores centralizados em cada uma dessas empresas. O que nos leva para um dos motivos que deu origem à Web 3.0.

Web 3.0 – A era da descentralização

Podemos dizer que a Web 3.0 não é apenas uma simples evolução das suas versões anteriores, mas também é uma redefinição de como utilizamos a internet. Ela não é uma ideia única de alguém que criou uma nova rede social ou um novo aplicativo com um conceito diferente.

A Web 3.0 é um conjunto de ideias e conceitos que buscam mudar a forma de controle sobre o uso da internet, tirando esse poder que está concentrado em poucas empresas e distribuindo para as pessoas, de forma descentralizada.

Nas versões da Web 1.0 e 2.0, sempre precisamos acessar um servidor específico para consumir uma informação ou inserir uma informação na internet. Por exemplo, eu preciso acessar o Youtube para assistir um de seus vídeos, assim como preciso acessar a plataforma para incluir vídeos em sua rede. Isso faz do Youtube o centralizador do conteúdo.

Um dos problemas que isso gera é que, ao ter um problema em seus servidores, todas as informações armazenadas nele, ou que circulam por ele, também estarão prejudicadas. E isso vai desde apagão de informações até invasão de privacidade de dados. Por isso, muitos profissionais da área do desenvolvimento de tecnologias passaram a pensar em outras formas de desenvolver aplicações e armazenar esses dados.

Blockchain e a computação descentralizada

É possível dizer que a blockchain é uma das ferramentas (ou tecnologias) fundamentais para a existência da Web 3.0. É por conta do seu mecanismo de descentralização da informação que essa nova geração da Web consegue distribuir o poder da informação para diversas pessoas.

Podemos definir a blockchain como uma rede de computadores distribuída, na qual o histórico de registros dos dados e suas atualizações é compartilhado entre todos os participantes da rede.

Na blockchain, cada computador é chamado de um “nó”, e todas as transações de informação são transformadas em um arquivo de texto em código chamado HASH. Cada vez que um arquivo de texto é criado ou atualizado, ele é compartilhado com toda a rede, formando “elos” entre os “nós”, como em uma corrente. Em uma tradução livre, blockchain significa corrente de blocos.

Fonte: EBAC

Essa pulverização da informação torna o ambiente virtual mais seguro. Para falsificar ou alterar ilegalmente um arquivo, é necessário alterar o seu arquivo original e todos os outros que estão atrelados a ele em, pelo menos, mais da metade dos computadores que fazem parte dessa rede.

As pessoas como proprietárias dos seus dados

Hoje em dia, fornecemos nossos dados para serem armazenados dentro do servidor de uma empresa. Fazemos isso repetidamente sempre que desejamos nos cadastrar ou ter um vínculo com uma nova empresa.

Na web 3.0, vamos armazenar nossos dados em um smart contract dentro da blockchain, que é um bloco de texto com nossos dados codificados. Quando quisermos usar as funcionalidades de algum aplicativo ou site, vamos permitir que o aplicativo acesse esse smart contract. Em contrapartida, quando quisermos parar de utilizar tal aplicativo, encerramos a permissão de acesso aos nossos dados.

Nesse formato, em nenhum momento nossos dados ficarão armazenados no servidor de uma empresa específica, mas sim estarão em nossa propriedade. Para exemplificar a diferença entre Web 2.0 e Web 3.0, vamos imaginar um aplicativo de desenho:

  • Web 2.0: você faz um cadastro no aplicativo para usá-lo, cria um desenho na plataforma e esse desenho ficará salvo dentro do servidor da empresa que criou o aplicativo.
  • Web 3.0: a criadora do aplicativo tem acesso ao seu smart contract para liberar suas funcionalidades, você cria um desenho no aplicativo e ele fica salvo no seu smart contract.

A internet vai mudar?

Atualmente as duas gerações da Web acontecem simultaneamente. Ainda vamos acompanhar muitas evoluções de como o mundo descentralizado da Web 3.0 pode alcançar a grande maioria das pessoas.

Por enquanto, o acesso a essa nova web, que é feito através de navegadores e aplicativos descentralizados (os DApps), ainda não atingiu o público geral, justamente por ser uma tecnologia ainda muito complexa.

Outros pontos importantes para a evolução dessa nova internet são as regulamentações e legislações. Ainda enfrentamos algumas dificuldades em relação às leis e punições a crimes cibernéticos na web como conhecemos hoje. Portanto, regulamentar um formato descentralizado da informação será um desafio ainda maior.

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Michele Lopes

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